Por que O Vegetarianismo Não Basta
Por: Camila Gomes Victorino
O vegetarianismo, para mim, tem
um ponto positivo: o fato de mostrar que mais e mais pessoas estão se
conscientizando do sofrimento animal e da depredação do meio-ambiente por conta
da carne. Mas estas são puras vantagens informativas, pois apesar das pessoas
estarem se tornando mais conscientes sobre o sofrimento animal, o
vegetarianismo em nada auxilia na libertação dos animais e muito menos na
questão ambiental.
Isto parece uma blasfêmia, mas
infelizmente não é! Quando virei lacto-ovo-vegetariana há mais de 15 anos
atrás, eu não tinha a mínima ideia do que era veganismo e não tinha acesso à
internet. Assim, a minha busca por hábitos mais éticos, baseados nos poucos
livros que havia lido (livros budistas) não conseguiram me informar de que a
carne é só a ponta milimétrica do iceberg da exploração animal.
De fato, as pessoas costumam
pensar que parar de comer muda alguma coisa, mas por trás desta ideia ainda
existe a tortura e muito, mais muito sofrimento - além da morte dos animais. Assim, o
vegetarianismo não basta e não serve e por mais que seja duro admitir, ele
funciona mais como um limpador de consciência do que como método efetivo na
libertação dos animais.
Queijo Mata
Muitos lacto-ovo-vegetarianos
(como eu no passado) sentem uma imensa falta das gorduras existentes na carne
(o tal do peso no estômago) e é por isso que o queijo se torna o grande
substituto da carne para eles. O problema é que a maioria dos queijos precisa
de enzimas para aglutinar e estas enzimas provêm do estômago dos bois e vacas
mortos e, principalmente, do estômago de filhotes recém-nascidos, pois eles
possuem maior quantidade desta enzima (coalho). Ou seja, não há eficácia alguma
em parar de comer carne para salvar os animais, pois quando se está comendo
queijo financia-se sua morte do mesmo jeito e também sua tortura.
Os Queijos sem Coalho
Mas aí surgem os queijos sem
coalho, que na maioria das vezes são cremosos. O catupiry, o “cream cheese” e o
requeijão não entrariam na lista da famosa “carne amarela”, mas surge então outro
problema.
Leite Mata
Como é possível que o leite mate
alguém? Afinal, nós sabemos que nossas mães nos amamentam e produzem leite, mas
nem por isso morrem. A resposta vem do fato de que toda fêmea mamífera só dá
leite quando está grávida e como bebemos leite (bovino, caprino e outros) todos
os dias, as fêmeas devem ser constantemente engravidadas (forçadamente por mãos
humanas colocadas dentro de sua vagina) para produzir o leite. Atualmente, as
vacas leiteiras são o produto de uma seleção artificial absurda, que criou
vacas que produzem mais leite do que poderiam agüentar. Isso enfraquece o
animal e diminui consideravelmente seu período de vida e também cria feridas e
dor. Mas e o bezerro? De fato, se a vaca só pode gerar leite quando é engravidada
artificialmente, ela também gerará um bezerro e este bezerro não é bem-vindo na
indústria leiteira, afinal ele vai tomar o “nosso” leite da mãe, então, os
filhotes machos são separados das mães e eles são deixados em um local escuro
para definhar de sub-nutrição. Sua carne é vendida como iguaria e tem o nome de
baby beef, veau ou vitela.
A vaca, por outro lado, depois de
parir por dezenas de vezes e ser separada de seus filhotes (é fácil encontrar
vídeos dos gritos da vaca e de sua tristeza quando o filhote é separado) vai
para o matadouro quando não serve mais para gerar lucros.
E o Leite Orgânico?
Orgânico parece uma palavra
mágica, mas mesmo que a vaca não seja alimentada com ração transgênica, ela
ainda sim é forçada a engravidar e tem seu filhote afastado. Como negócio, os
orgânicos não podem ficar no prejuízo e, portanto, tudo é utilizado - como a
carne do bezerro macho - ou descartado - como a vaca que já não produz como
antigamente. No final, o animal ainda é nossa propriedade e é impedido de viver
sua vida para si.
E a vaca do meu quintal?
Você pode argumentar que a vaca
do seu quintal ou do quintal de um amigo dá leite a cada cinco anos e um
filhote e que beber este leite não tem problema algum, já que não houve
gravidez forçada, nem morte do filhote, porém é preciso entender que os animais
têm o direito de manterem seus corpos e secreções para si e que eles não foram
feitos para nós, mas para viverem por si mesmos. Assim, beber o leite da vaca
do quintal continua a explorar o animal, afinal, nós usamos algo que é deles e
feito para eles.
Ovo-vegetarianismo
Quando percebi os problemas
relacionados ao leite, eu parei de beber e comer por completo os seus
derivados, porém o ovo se manteve e eu mal imaginava que galinhas poedeiras,
assim como as vacas, também têm seus recursos reprodutivos explorados pelo ser
humano. De fato, o ovo da galinha é a sua menstruação, quando não há
fecundação, mas a galinha naturalmente não dá ovos todos os dias quando seus
ovos não lhe são retirados. Geralmente, o que acontece na natureza é que a
galinha menstrua e come sua menstruação, reequilibrando a perda de cálcio do
ovo que botou. Quando o ser humano intervêm, este balanço muda e a galinha
perde muito cálcio e adoece com muita facilidade e quando já não consegue mais
botar ovos com certa frequência, ela é levada ao matadouro.
Se é natural a galinha comer seus ovos, por que ela não os come no
aviário?
Isto é simples. A galinha tem o
bico cortado quando pequena. Isso faz com que ela não consiga comer os próprios
ovos e isso também evita que elas debiquem umas as outras sob o forte estresse
das gaiolas sujas e pequeninas em que vivem a vida toda. Por fim, é ainda
preciso entender que a fêmea vai para a casa de tortura, mas os pintinhos
machos, por não produzirem ovos, são mortos e triturados assim que seu sexo é
descoberto.
Eu como ovo orgânico (...)
Assim como no caso do leite, os
ovos orgânicos continuam a explorar as galinhas, pois apesar de viverem soltas,
seus recursos reprodutivos lhe são roubados. Em negócios orgânicos, as galinhas
velhas são levadas ao açougue e, em quintais de vizinhos, elas parecem viver
felizes, mas ainda assim não conseguem ter a vida plena e natural, pois seus
recursos são insistentemente roubados pelos humanos.
Nem tudo é comida
Algo que ainda é preciso
considerar dentro do contexto de lacto-ovo e outras formas de vegetarianismo é
que o vegetariano não come a carne, mas usa o couro ou a gordura do animal em
seus produtos de beleza e limpeza. Além disso, não se considera a exploração
dos testes em animais de muitos produtos e de outras formas de exploração
envolvendo outros seres vivos, como as abelhas (mel), ossos em bijuteria e
instrumentos musicais, pérolas e madre-pérola, uso de penas em travesseiros,
entre outros. Assim, depois de termos visto que parar de comer somente carne
não resolve o problema dos animais de maneira alguma, é preciso repensar nossa
forma de agir no mundo.
Os vegetarianos se importam
Este texto não tem a intenção de
apontar o dedo para os vegetarianos, mas de abrir os olhos de muitos deles,
pois geralmente eles se importam com o sofrimento animal. Eu já fui
lacto-ovo-vegetariana e usava couro. Eu nunca tinha pensado a respeito de
minhas contradições. Todavia, foi a internet e muita busca que me fizeram
perceber as falhas de meu modo de agir e hoje, depois de dois anos de
veganismo, posso assumir que ser vegana é uma forma muito menos contraditória e
muito mais efetiva para a libertação dos animais. Além disso, o veganismo
também ajuda a proteger as florestas do desmatamento, pois as vacas leiteiras e
galinhas poedeiras se alimentam da soja produzida em solo desmatado. Assim,
assumindo todas estas vantagens, os vegetarianos devem considerar optar pelo
veganismo um dia. Sei que muitos irão repensar suas ações, pois vocês já se
importam.
Os limites do veganismo
Existem limites no veganismo e
uma discussão sobre eles está exposta no texto “Por que os limites do veganismonão importam”. Para discussões sobre veganismo e seu contexto político, sugiro
“Reflexões sobre um Veganismo capitalista” e para aqueles que procuram adentrar no veganismo e
procurar a transição, existem vários textos na aba “veganismo”que podem te
auxiliar.
Por fim, o grupo no Facebook
“Troll Ajuda” possui uma equipe disposta a retirar dúvidas de pessoas
interessadas no veganismo, sem nenhum compromisso e muito menos intolerância.
Se você se interessou no veganismo, você pode se inscrever no grupo. Para mais
informações sobre os direitos dos animais, sugiro o filme “Terráqueos” que
resume muito bem todas as facetas da exploração animal em nossa sociedade.
Amo ser vegana!
Tudo é saboroso e tudo cheira a paz!
Tudo é amoroso e esqueci do tanto faz
Meu dia é esperança porque é muito eficaz.
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VEGANISMO
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