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O Espírito da Amazônia na Voz das Mulheres: Uma Verdade Inconveniente

Por: Camila Gomes Victorino

Muito em parte, um dos principais fatores econômicos que lideram o desmatamento e destruição da Amazônia é a pecuária com o desmatamento para produção de pastos ou para a criação de monoculturas de soja para ração animal. Em segundo lugar, temos o comércio de madeira, que, ao contrário do que acredita o senso comum, destrói tudo que vê pela frente, sendo espécie protegida ou não, havendo comunidades indígenas ou não no local.

Fonte: Wikipedia. Foto: Agência Brasil

Desde Chico Mendes, ainda vemos acontecer na floresta diversos tipos de crimes contra ambientalistas, porém a mídia não retrata quase nunca a luta destes ativistas, em especial aqueles que se concentram na promoção dos direitos indígenas, amplamente violados pela sede de lucro de empresas, posseiros, políticos e magnatas da região. Ainda mais grave é a cegueira que existe em relação às ativistas mulheres, que infelizmente são escondidas e parecem praticamente inexistentes em nossa sociedade patriarcal. Assim, para melhor entender a situação atual da Amazônia, este texto em questão foca em algumas ativistas de direitos indígenas e do meio-ambiente, as quais não só enfrentam a fúria dos desmatadores, como um certo machismo provindo de seu próprio povo.

Ruth Buendia – a voz dos povos indígenas da Amazônia peruana

Ruth Buendia usando uma veste típica de seu povo. Fonte: TV5Monde. Foto de: Jérémy Jolie

Ruth Buendia é uma das poucas mulheres chefes indígenas no mundo, mas apesar da desconfiança inicial dos homens de sua comunidade, ela conseguiu se reeleger diversas vezes, não só beneficiando os direitos dos povoados indígenas do rio Ene, mas também aumentando a valorização das mulheres indígenas destes povoados. Ruth começou seu caminho como ambientalista e defensora dos direitos indígenas afiliando-se na associação “Central Ashaninka do rio Ene”, que congrega 32 comunidades. Em 2003, um acordo entre o governo do Peru e Brasil, conhecido como Pakitzapango, prevê a construção de uma barragem hidrelética no rio Ene, sem consulta alguma aos povos indígenas, moradores da região. Nisto, 3500 pessoas ficariam desabrigadas e apesar dos protestos encabeçados por Ruth, o governo continuou as obras, até que ela decidiu ir à “Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos”, levantando os holofotes midiáticos. Sob pressão, o governo não dá continuidade às obras que, infelizmente, não foram canceladas, mas apenas paralisadas. Recentemente, Ruth participou da COP20, defendendo os direitos da floresta e dos povos indígenas.

Maria do Espírito Santo da Silva – matar uma árvore é um assassinato

O casal Silva. Fonte: MST

Maria não tinha tanta atenção da mídia como seu marido José Cláudio, porém os dois juntos representavam uma das maiores vozes dos direitos da floresta dos tempos atuais. Infelizmente, o casal foi assassinado em 2011, seguido de uma emboscada, sob suspeita de mandato de madeireiras. O casal era bastante conhecido nos meios de comunicação internacionais e fazia vigilância constante da floresta, protegendo-a contra madeireiros. Ambos participavam do assentamento agroextrativista “Praia Alta Pirandeia”, no Pará, o qual abriga mais de 500 famílias que vivem do extrativismo da castanheira e de essências da floresta.

Veja o vídeo do TEDx Amazônia, em que José Cláudio fala sobre o trabalho do casal e dos direitos das florestas.



Dorothy Stang – Reforma agrária já

Foto: Carlos Silva/Reuters

Dorothy Stang ficou bastante conhecida depois de seu assassinato, mas ainda hoje muitos desconhecem o seu trabalho na região amazônica. Na realidade, Dorothy procurava lutar pela reforma agrária e direito à terra na região, incentivando o extrativismo e manuseio sustentável da floresta junto às comunidades carentes. Ela também ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores da região Transamazônica e foi homenageada no documentário “Amazônia revelada”.

Ainda estamos longe, mas toda história tem um fim

A Amazônia era antigamente considerada como pulmão do mundo, mas se sabe atualmente que ela funciona mais como um regulador climático, que não só influencia toda a América do Sul e Norte, como também partes da Europa. Além disso, sua devastação não acarreta apenas uma mudança climática sem proporções, como a que vemos no Sudeste do Brasil recentemente, mas também a perda de biodiversidade, a destruição de comunidades indígenas inteiras e sua cultura e da vida dos povos da floresta, que se beneficiam do extrativismo sustentável.
Atualmente, a pecuária é a principal fonte de problemas e é por isso que devemos incentivar, o mais urgente possível, o veganismo nas escolas, nas nossas comunidades, famílias ou em nós mesmos. Infelizmente, é muito díficil convencer quem destrói a floresta a respeitar a vida e é somente a diminuição da demanda por derivados animais que fará com que este tipo de negócio se torne menos atrativo diminuindo a pressão da floresta. Por fim, é importante lembrar que a outra fonte de desmatamento (as madeireiras) não é só responsável pela degradação da floresta, como também é uma das fontes principais de trabalho escravo no Brasil, pois a madeira é comumente usada para produzir carvão vegetal.

Tentar sempre é possível! Torne-se vegan, estimule sua comunidade! Aos poucos vamos chegar lá!


Paz!





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