Por Que os Limites do Veganismo Não Importam
Por: Camila Gomes Victorino
Se você é vegana ou vegano ou
apenas está curiosa(o) sobre o assunto, é possível que alguns limites dentro do
veganismo tenham sido encontrados. De fato, viver em uma sociedade moderna
totalmente dependente da exploração animal (veja texto: “O veganismo é o boicote universal?”) faz com que a maioria dos produtos comercializados atuais
apresentem algum derivado de origem animal e, nem todos são viavelmente
boicotáveis pelo vegano ou vegana mais assíduo. Entre eles, eu poderia citar os
pneus de carro, bicicleta ou ônibus, que utilizam ácido esteárico provindo de
derivados animais, ou podemos ir ainda mais longe e perceber que a própria
agricultura usa insumos animais, principalmente a agricultura orgânica, para o
plantio de vegetais (esterco de galinha, na maioria dos casos).
Os limites do veganismo existem, mas não fazem diferença para a libertação dos animais |
É contando com os infindáveis
produtos de difícil boicote, que uma grande maioria de pessoas ativistas, mesmo
sabendo da exploração e violência por trás de seus hábitos alimentares, não se
tornam veganos. Afirmam eles que o veganismo é por si só um movimento
contraditório e até hipócrita porque é impossível viver em uma sociedade em que
o uso de animais ou seus derivados seja deixado de lado e que mesmo no caso da
permacultura, ainda assim precisaríamos de alguns animais de criação.
Eu acredito que existem sim
muitos limites no veganismo, mas é muito cômoda a ideia de que, se não é
perfeito, então melhor manter a exploração animal e comer logo um bife
orgânico. De fato, depois do veganismo ter sido cultivado por décadas e
décadas, sua semente cresceu no mundo de maneira tão exponencial que aqueles
limites que pareciam sem solução alguma, agora começam a ser resolvidos e
justamente por pessoas que continuaram a acreditar que um mundo sem exploração animal
é sim possível e só depende da inventividade do ser humano.
A agricultura orgânica e a própria permacultura nem sempre apoiam os ideais de libertação animal, mesmo sabendo de suas consequências. |
Vamos a um exemplo:
a própria agricultura! Até algum tempo atrás, a agricultura orgânica era
considerada tiro no pé e existia (ainda existe infelizmente) o argumento de que
este modelo de agricultura não conseguiria produzir suficientemente para
alimentar todos os seres humanos do planeta. Evidentemente, depois de muitos
nós solucionados, notou-se que a maior parte da agricultura convencional produz
vegetais para criação de animais ou para fins não alimentícios (como algodão) e
não para alimentar os pobres e oprimidos. Foi assim que a agricultura orgânica
começou a ganhar mais e mais terreno, mas chegou o ponto em que se notou que
uma agricultura orgânica sem uso de animais seria impossível e então o
veganismo seria impossível. Será?
Como nem todos caíram na lorota
de que o agronegócio seria a solução para a fome do mundo, algumas pessoas
começaram a usar sua inventividade e sua preocupação com os direitos dos
animais para gerar técnicas de agricultura vegana e, hoje, apesar de ainda
pequeno, cresce um movimento de permacultura vegana no mundo, que produz muitos
alimentos, sem exploração animal, sem esterco de galinha, pó ou carvão de osso.
O movimento de permacultura e agricultura orgânica vegana é cada vez mais forte na atualidade. |
A moral da história, que o
exemplo da agricultura conta bem, é a de que os limites do veganismo não
importam porque se as pessoas resolverem apostar na causa de libertação animal
e passarem a boicotar o que podem, a demanda por si só fará com que novas
técnicas sejam inventadas para transformar produtos não veganos –muitos ainda hoje
não boicotáveis (remédios, por exemplo) - em produtos veganos no futuro.
É aí então que voltamos àquela
questão que ainda não quer calar: se você se importa com os animais, se é
saudável ser vegano ou vegana, se é saboroso e se é acessível, por que você
ainda não se tornou vegana ou vegano? O problema em si não é a incongruência
dentro do veganismo, ou o sofrimento dos vegetais ou a presença de caninos em
sua boca ou mesmo os nossos ancestrais carnívoros, mas o fato de que as pessoas
(mesmo as engajadas em movimentos agroecológicos ou aquelas que sabem tudo e
absolutamente tudo sobre exploração animal) não conseguem sentir compaixão
pelos animais e se colocar em seu lugar, o que por si só diminui sua força para
melhorar a si mesmo.
Não há desculpas. O que nos falta é apenas compaixão e conseguir se colocar no lugar do outro (humano ou não). Mas, nós podemos mudar isso! |
Se eu estou criticando? Não, porque
criticar não adianta. O meu ponto aqui é dizer que temos um problema de falta
de compaixão e que as pessoas preferem negar e apagar de suas memórias uma
informação verídica sobre o sofrimento animal do que sair de sua zona de
conforto. Claro que sair da zona de conforto não é um processo fácil e que
existe ainda a pressão social e da família. Sei também que muitos veganos e
veganas são intolerantes com quem ainda está iniciando o processo. Apesar
disso, continue tentando e não desista! Não foi fácil para mim, para ninguém e
não será para você, mas antes que você desista, existem pessoas prontas a
ajudar e até técnicas para auxiliar você a se tornar vegano/vegana.
A alimentação vegana é saborosa e abrange desde a culinária mais saudável, até o fast food, como o da foto. |
O futuro de nossa própria espécie
depende de uma auto-revolução e expansão de nossa consciência e se apóia no
nosso entendimento de que todos nós podemos mudar o mundo, fazendo a mudança
acontecer em nós mesmos. Não queremos que um belo dia, acordemos sem conseguir
respirar o ar poluído ou com uma extrema falta de água, como vocês já viram
acontecer. Não queremos olhar para o caos e descobrir que poderíamos ter feito
algo, mas não fizemos nada por ter medo. E acima de tudo, não queremos falhar
na missão que a humanidade tem de compreeender que este não é o seu planeta e
que todos (humanos ou não) merecem respeito. Vamos fazer deste ano um ano em
que enfrentaremos nossos medos: medo de mudança, medo de enfrentar o status
quo, medo de decidir diferente. Nós podemos!
Nota: se você
está sentindo o chamado e acha que precisa de ajuda ou conselhos para tornar-se
vegana ou vegano, entre em contato com o site. Estamos à disposição para
auxiliar.
Fonte das imagens: Pixabay
Paz!
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