O Ativismo Além do Simples Veganismo
Por: Camila Arvoredo
Tornar-se vegano é uma verdadeira revolução em nossas vidas e para o mundo como forma de protesto não violento, mas até que ponto os próprios veganos entendem a profundidade deste movimento? Fonte: OnegreenPlanet. |
O veganismo é um movimento que vai além de qualquer tipo de
dieta. Geralmente ele é descrito como uma forma de vegetarianismo estrito, em
que seus adeptos não se alimentam de nenhum tipo de derivado animal. Soa até desagradável colocar o veganismo como
uma espécie de restrição, algo estrito, como dizem, algo muito radical,
esquecendo que ele não se trata apenas de alimentação, mas de um movimento que
luta pela libertação dos animais de qualquer tipo de exploração humana. Neste
caso, não basta parar de comer derivados animais, mas de parar de consumir
objetos com matérias-primas de animais, como couro e peles, ou produtos que não
contenham seus derivados, mas os explorem de alguma forma, como produtos que
utilizaram testes em animais, de cosméticos e remédios a produtos de limpeza.
Tornar-se vegano é uma revolução interior, que alimenta o espírito e nos torna mais fortes. Na foto: Por que vegan? Porque nutrir a alma é mais satisfatório que alimentar o estômago. Fonte: O'Vegan-Saving lifes. |
Sendo assim, ser vegano vai além de uma simples dieta. Até
aí, a maioria daqueles que segue o movimento já conhece bem as ações que devem
realizar para ao menos diminuir a exploração animal, através da diminuição da
demanda de produtos. O problema é que, quando se se torna vegano, muitos não se
dão conta de que o veganismo vai além dele mesmo e de ações voltadas
primariamente aos animais.
O veganismo nos traz força e esperança. Fonte: Just-eat |
Tornei-me vegana há seis meses e depois disto ter acontecido
muitas coisas mudaram em minha vida. Primeiramente, percebi que ser
lacto-ovo-vegetariana é quase um paraíso de facilidade perto do veganismo, pois
quase tudo em nosso mundo contém ovo ou leite ou mel ou qualquer outro derivado
animal. Aliás, não pára por aí: quando fui notar, percebi que muitas de minhas
roupas continham lã ou couro; ou que os produtos de limpeza ou cosméticos foram
testados em animais ou continham algum derivado. Assim, foi uma revolução, que
mudou totalmente meus hábitos, mas que me fez ver o poder que este movimento
possui. Sou apenas uma que deixou de consumir de toda uma indústria de
violência, mas juntei-me a milhões, que hoje fizeram a demanda por leite nos
EUA, cair tanto que gerou crise econômica para o setor. Isso é muito bonito,
pois não se trata simplesmente de pedir para que um governante mude ou crie um
projeto, mas trata-se de mudar a si mesmo para mudar o mundo, sem violência
alguma, mas muito pelo contrário: com compaixão total.
O veganismo é um movimento profundo que engloba o fim da violência contra todos os seres. Na foto: para acabar com a opressão de um (sexismo, racismo, classismo, especismo) nós devemos ir contra a opressão de todos. Fonte: Tumblr |
Apesar deste poder, a maioria dos veganos não consegue ver
que este movimento tem um poder que vai ainda mais além da esfera animal! Lutar
pelo fim da exploração animal e, consequentemente, contra a violência está
ligada a toda uma luta contra a violência em geral, o que começa a clarificar
que violentar um animal está igualmente ligado a violentar uma mulher, a
agredir um homossexual, a descriminar por racismo ou a explorar pessoas por
trabalho escravo.
Estudos correlacionam a violência contra animais domésticos
a violência contra mulheres e crianças (ver DeGue & DiLillo, 2009; McPhedran, 2009). Sendo
assim, é comum que a violência contra animais – seres considerados
juridicamente impotentes ou quase inexistentes – esteja ligada a violência
contra a mulher, idosos ou crianças – indivíduos considerados abaixo da
hierarquia de poder na maioria das sociedades. Atualmente existem até estudos
que relacionam o machismo ao consumo de carne, já que ambos estariam
relacionados à exploração e uso da violência contra seres considerados
subalternos ao macho humano (ver Carol J. Adams – A política sexual da carne, a
relação entre o carnivorismo e a dominância masculina).
Em "A política sexual da carne" Adams correlaciona o consumo de carne à opressão contra a mulher. Fonte: Psicoisas. |
Infelizmente, mesmo que
exista de fato uma correlação entre machismo, racismo, homofobia e outras
formas de agressão com o carnivorismo, os próprios veganos utilizam-se de
estratégias negativas e agressivas para chamar a atenção do público carnívoro
para o problema da carne. Assim, instituições como PETA e Move usam de
publicidade que explora o corpo feminino, das mais variadas formas possíveis,
para atrair a visão, possivelmente, de homens sedentos por carne (nos dois
sentidos). Na publicidade é muito comum utilizar o corpo da mulher para vender.
Este setor está ligado comumente aos interesses de pessoas irresponsáveis e que
na maioria das vezes, prefere destruir países inteiros, somente por saber que
haverá uma ilha ou mesmo outro planeta para fugirem com seu dinheiro sujo.
Veganos às vezes utilizam a exploração do corpo da mulher para atrair a atenção para a causa animal, sem se dar conta de que a estratégia é pouco efetiva e fortalece a violência contra a qual lutam. Na foto: Vegetarianos são mais saborosos. Fonte: VeganBodyRevolution. |
Não
me surpreende o uso de violência para gerar violência, porém é surpreendente
ver veganos utilizando formas de exploração para acabar com a exploração. Isto
não pode funcionar! Não adianta tentar libertar os animais, mas não libertar
igualmente as mulheres, os idosos, os homossexuais, os negros, índios e outros
da exploração do mais forte. Afinal, a submissão do mais fraco ao mais forte é
uma lógica que está implícita em todas estas formas de violência! Ademais, será
impossível acabar com a exploração animal quando a lógica de poder ainda
vigora.
A PETA é uma das principais organizações envolvidas no uso de corpos femininos para atrair a atenção do público. Na foto: coma verde, seja vegetariano. Fonte: Andajor. |
Assim, o que gostaria de dizer neste texto é que o veganismo
vai além do próprio veganismo! Ser vegano não é apenas boicotar a exploração
animal, mas boicotar comportamentos preconceituosos! Imagine ser um vegano e ir
ao prostíbulo! Imagine ser um vegano e ser contra casamento inter-racial ou
homossexual! Imagine ser vegano e não ser vegano? Pois bem, pessoas que são
machistas, homofóbicas, racistas, violentas ou mesmo que boicotam um
hambúrguer, mas não sentem a mínima compaixão por outros reinos biológicos,
destruindo ecossistemas, a vegetação local e ambientes inteiros, não são
verdadeiramente veganas! Não adiantará nada criar um mundo vegetariano em que
se vai da mesma maneira ao supermercado, com funcionários cansados e
explorados, com cervejas veganas cujas propagandas possuem mulheres sendo
tratadas como objeto e com consumismo desenfreado, porém vegan!
Ser vegano é justamente lutar pelas pessoas, pelo planeta e pelos animais! Go vegan! Fonte: Curiosidadesveg |
Acho que devemos pensar nisso! Porque todos nós queremos um
mundo melhor para todos os animais (inclusive humanos)! O boicote universal já
está presente na maioria dos países e cresce a cada dia, mas nunca devemos nos
esquecer que lutamos pela libertação de todos os seres vivos! Que ao mesmo
tempo que não queremos que uma vaca seja separada de seu filhote e este morto
para gerar um baby beef e ela subjugada e maltratada como um objeto para gerar
leite, não queremos também que mulheres sejam levadas de seus lares, presas em
quartos minúsculos para servir ao tráfico sexual. Não é a mesma coisa? Só a espécie
muda! O especismo continua! E não é contra isso que o veganismo mais luta?
Vamos repensar nossos atos e a cada dia que acordarmos revejamos o quão somos
violentos, afinal ser vegano é boicotar qualquer exploração aos animais, mesmo
que este animal seja um Homo sapiens.
Paz!
Referências
Adams, C. J. A política sexua da carne: a relação entre o carnivorismo e a dominância masculina. Editora Alaúde, 1ª edição, 2012;
DeGuee, S.; Dilillo, D. Is animal cruelty a family flag for family violence? Journal of Interpersonal Violence. 24(6), 1036-56 June, 2009;
McPhedran, S. Animal abuse, family violence and child well-being: A review. Journal of Family Violence. 24(1), 41-52, January, 2009.
Ajude o blog a crescer e seja um seguidor!
Projeto "HISTÓRIA AO CONTRÁRIO", clique aqui para saber mais!
Labels
VEGANISMO
Post A Comment
17 comentários :