A Polêmica Do Micro-ondas
O micro-ondas será tão inofensivo assim? Fonte: Mindfully |
Usar o micro-ondas sempre foi assunto de polêmica para
pessoas que se preocupam com a saúde, mas o que é mito e verdade por detrás de
seu uso? Eu, particularmente, nunca gostei de usá-lo, mas com o uso constante
de marmitas fui obrigada a começar a utilizar o micro-ondas e notei que a comida
apresentava um sabor alterado e ruim. Comecei a perder o apetite, até que
decidi comer a comida fria. Minha experiência, claro, não é uma evidência de
que há um problema em si, mas fazendo uma pesquisa acabei por descobrir que
esta polêmica ainda persiste, mas o que, de fato, leva o uso do micro-ondas a
ser perigoso? Bem, primeiramente, a radiação liberada pelo aparelho não faz mal
à saúde, pois a quantidade de ondas liberada não é suficiente para causar
danos. Apesar disso, existem muitas pesquisas recentes que evidenciam que o
excesso de ondas a que estamos sujeitos (e não é só do micro-ondas) podem levar
a algum problema de saúde, como as ondas de celulares, rede elétrica, wi-fi
etc. Mas como isto ainda é muito polêmico e não faz referência apenas ao micro-ondas,
vamos deixar esta possibilidade de lado, para este texto em questão.
O problema não é a radiação, mas o que ele pode causar aos alimentos. Fonte: NickTuminello |
O problema real do micro-ondas não é a radiação, mas o que o
seu processo de aquecimento faz com o alimento. Para aquecer a comida, o
aparelho libera micro-ondas (daí o seu nome) que doam energia para as moléculas
da água contidas no alimento. Estas, então, cheias de energia, começam a girar
rapidamente e por baterem umas nas outras geram atrito que se transforma em
calor, o que, por fim, aquece a comida. No meio deste processo, entretanto, a
rotação das moléculas é tão intensa que muitas delas se quebram quando em
contato umas com as outras e algumas se transformam em seus isômeros
estruturais. Isômeros estruturais são moléculas que contém a mesma estrutura
química, mas possuem um mesmo átomo (oxigênio, por exemplo) em uma posição
diferente.
Enzimas funcionam como chave-fechadura com o substrato. Se elas se distorcem um pouco, a chave não consegue abrir a porta. Fonte: AlunosOnline |
Apesar de parecerem similares suas funções são muito distintas.
Imagine, por exemplo, que uma enzima, para funcionar, precise se ligar a uma
proteína de uma conformação muito específica, como em um esquema
chave-fechadura. Se tentarmos substituir esta enzima pelo seu isômero
estrutural, ela não vai encaixar direito, pois um de seus átomos está em um
lugar diferente, o que fará com que ela não tenha valor biológico. Neste caso,
se o micro-ondas é capaz de transformar moléculas em isômeros estruturais ou
danificá-las, o valor biológico do alimento não será o mesmo após seu
aquecimento. Um motivo para o gosto ruim da comida que eu esquentava? Não posso
afirmar, mas alguns pesquisadores já demonstram que não é saudável esquentar
alimentos na máquina, pois se estaria comendo comida “vazia” de propriedades
nutricionais.
O micro-ondas pode aquecer o alimento diferentemente e causar queimaduras ou explodir. Na foto: "Esquentei o resto do café no micro-ondas, o café está morno, mas a xícara queima os lábios". Fonte: Memegenerator |
Mas, se o aquecimento causa problemas no alimento, temos que
comer comida fria? Bem, na realidade, o processo de aquecimento do micro-ondas é
dado por corrente alternada, diferentemente do aquecimento em forno
convencional ou solar. Vamos explicar: as micro-ondas liberadas pelo aparelho
produzem picos alternados de energia que fazem com que as moléculas partam para
um lado e para o outro seguindo esta alternância; no caso da luz do Sol ou
forno, a corrente é pulsada e não alterna, gerando calor por transmissão e não
por atrito. Esta é uma diferença muito importante na hora de aquecer o alimento,
pois se não há atrito, há menores chances de danos moleculares.
No geral, eu confio nos meus instintos. Os micro-ondas são
usados indiscriminadamente por muitas pessoas. Muitas esquentam até água, fazem
arroz, tortas, bolos, sendo que poderiam simplesmente usar um forno comum. Mas,
o que diz a ciência?
Devemos nos preocupar? É melhor usar o princípio da precaução! Fonte: ApplianceService |
Demorei bastante para encontrar alguma pesquisa que
fizesse uma comparação entre o aquecimento clássico em forno e o aquecimento em
micro-ondas. Não parece haver muito interesse em se descobrir os potenciais
riscos do uso deste aparelho e eu, querendo sair das explicações mais
conspiratórias, descobri que o micro-ondas não é usado apenas para uso
doméstico, mas é utilizado em processos de pasteurização de sucos, leites e
outros líquidos e mesmo em todo tipo de alimento industrializado que demande
aquecimento para esterilização. Ou seja, imagine o prejuízo que a indústria
alimentícia teria que arcar se os micro-ondas fossem de fato danosos?
Claro que pode ser apenas falta de interesse por parte da
comunidade científica. De qualquer forma, um estudo recente em um jornal
bastante conceituado mostrou que existem modificações significativas no
alimento esquentado em micro-ondas e em forno convencional1. O estudo
não detectou variações em suco de laranja, mas notou uma mudança pertinente no
aquecimento de leite. Conclusão: dependendo do conteúdo químico do alimento, o
micro-ondas pode modificá-lo. Se esta modificação causa ou não danos
nutricionais e na saúde à longo prazo, outros estudos deverão testar. Por enquanto,
apenas fiz o artigo para informar quem queira que o uso de micro-ondas não é tão
irrelevante quanto se pensa e pode sim estar causando perda nutricional nos
seus alimentos e possíveis doenças futuras. Eu prefiro apoiar o princípio da
precaução.
Os fornos solares são ótimas opções para substituir o micro-ondas. Fonte: Wikipedia |
No mais, já existem muitas pesquisas que mostram que
esquentar líquidos em micro-ondas pode levar a sérias queimaduras,
principalmente em crianças2. Muitos já devem ter ouvido falar que
líquidos aquecidos no aparelho podem explodir no rosto das pessoas, isso porque
o aquecimento por micro-ondas esquenta mais o interior do que o exterior
(contrário do aquecimento convencional) e isto pode causar a falsa impressão de
que o alimento não está tão quente e queimar a boca ou gerar jatos de vapor
quando movido e explodir.
Mas, quais são as outras soluções? Não acho que nós devemos
apenas mostrar os problemas, mas dar soluções cabíveis às pessoas que querem
resolver a situação. Se você, como eu, decidiu aposentar o micro-ondas existem
outras opções, como o forno elétrico ou simplesmente aquecer pizzas e outros em
banho Maria ou no forno convencional mesmo. Melhor ainda é construir um forno
solar, que é ecologicamente correto e realmente esquenta (veja post sobre forno
solar: "Cozinhando com o Sol: a revolução dos fornos solares"). Por fim, para aqueles que levam marmita, eu aconselho preparar
alimentos que sejam agradáveis de se comer frio. No meu caso, eu opto por
preparar refeições crudívoras (mais informações no próximo post) ou levo muita
salada, bolinhos ou pastas, como homus, maionese vegana, salada de lentilha
etc. Deixo o feijão para quando estou em casa, já que não gosto de feijão frio.
Depende de cada um!
Abaixo deixo algumas fontes para quem queira se inteirar no
assunto do micro-ondas.
Paz!
Referências
1 - *Géczi, G.; Horváth,
M.; Kaszab, T.; Alemany, G. G.; No Major Differences Found between the
Effects of Microwave-Based and Conventional Heat Treatment Methods on Two
Different Liquid Foods (2013), PlosOne, 8(1). Disponível em: < clique
aqui >. Acesso em: 18/04/2014.
2 - Budd, R. Burns
associated with the use of microwave ovens. (1992) Journal of Microwave power
and Eletromagnetica waving, 27(3). Disponível em: < clique
aqui >. Acesso em: 18/04/2014.
*Apesar do título do artigo
afirmar que não se encontrou diferenças significativas entre forno convencional
e micro-ondas, no resumo e no artigo eles apontam para o contrário,
afirmando que encontraram modificações no leite.
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