Plantar Florestas, ao invés de Hortas. O Futuro da Humanidade?
Estamos mais preocupados com eletrônicos, moda e acessórios com o que realmente importa: alimentos e água. Afinal, sem os primeiros, nós viveríamos, mas sem os segundos, jamais poderíamos sobreviver. Infelizmente, a alienação com relação ao alimento e água não é só direcionada a dar mais valor para bens menos necessários, como também a transformar a própria produção de alimentos em algo insustentável e que pode nos levar a um colapso.
Na foto: 1 quilo de bife precisa de 121,8 m2 de terra, 1500 litros de água e 7 litros de petróleo. Este equivalente gera 160 quilos de batata e 1 ano de banhos diários. Vacas emitem 80 vezes mais gases do efeito estufa do que o equivalente a 1 quilo de trigo. Fonte |
Veja por
exemplo o caso da criação de animais para produção de carne e derivados. Para
produzir apenas um quilo de carne, são necessários 160 vezes mais terra fértil do
que para produzir a mesma quantidade de batata, trigo ou arroz para uso humano
(Eshel et al., 2014). Ao mesmo tempo, o uso de energia para produção de carnes
é quatro vezes maior do que a de grãos e duas vezes maior que a de frutos e
vegetais (Scientifc American) e mesmo assim, só nos Estados Unidos,
mais da metade de suas terras férteis são dedicadas à produção de vegetais para
alimentar animais, que gerarão carne para alimentar uma proporção menor de
humanos (USDA, NASS, Washington Post – veja gráfico abaixo) e mesmo com todos
os problemas ambientais relacionados à criação de animais (alguns já citados no
texto), 63% dos subsídios governamentais são destinados à pecuária, 20% para
graõs, os quais, em parte alimentarão os animais criados para alimentação
humana, 15% para produção de óleos, álcool, açúcar e amido, os quais, em parte,
serão usados como combustível e somente 2% para a produção de vegetais, frutas
e castanhas, as quais, aí sim serão usadas para alimentar humanos (Cai, 2009).
Gráfico da USDA mostra que a maioria dos estados estado-unidenses produzem vegetais destinados à criação de animais e não para alimentação humana. Em vermelho: estados com maior produção destinada a animaisç em verde, estados com maior produção destinada a humanos. Fonte |
Tudo isto
não é novidade e já existem vários estudos demonstrando a insustentabilidade da
dieta onívora atual (USDA e veja figura abaixo). Apesar disso, ainda não há tanta
atenção para o fato de que existem diferentes modelos de produção de alimentos
vegetais no mundo e que alguns deles são mais sustentáveis do que outros e
ajudam mais na preservaçáo da biodiversidade e florestas do que outros.
Pegada ecológica dos diferentes tipos de hábitos de consumo, envolvendo alimentação. Na foto, da direita para a esquerda: pegada ecológica de amantes de carne, onívoros médios, sem carne vermelha, lacto-ovo-vegetariana e vegetariana-estrita (não se sabe se eles consideraram o boicote geral dos veganos a todos os produtos com derivados animais e não apenas a dieta). Fonte |
Assim,
mesmo que seja possível que a maioria das pessoas se tornarão vegetarianas
estritas daqui há um ou dois séculos por pura questãod e sobrevivência da
espécie humana, ainda é preciso discutir qual modelo de produção de vegetais
nós desejamos e qual o mais eficiente em termos ambientais e sociais, de modo
que protejamos as florestas, mas também consigamos proteger os direitos humanos
e animais.
A pobreza do sistema de plantio atual
Monoculturas empobrecem o solo, diminuem a biodiversidade, desmatam, poluem os recursos hídricos. Fonte |
A maioria
dos sistemas de agricultura atuais são baseados na visão monocultural. Neste
sentido, dá-se preferência à plantação de apenas uma espécie em uma grande área
de solo, o qual foi desmatado e limpo anteriormente. A ideia por trás da
monocultura vem do fato de que a espécie de interesse teria menos competidores
por água, luz do sol e nutrientes, fazendo com que a mesma pudesse gerar
alimento mais rápido e com menos gasto de energia.
O problema
é que a plantação monocultural não tem nenhuma diversidade e por ser muito
diferente do sistema que foi desmatado anteriormente, ele é mais sujeito à
pragas. Além disso, o plantio repetitivo de uma mesma ou duas espécies causa o
empobrecimento do solo. Ou seja, este sistema não só desmata, degrada a
biodiversidade, mas também requer o uso de venenos e corretores artificiais de
solo, como fertilizantes químicos, No geral, este sistema degrada a natureza,
polui os solos e recursos hídricos e a saúde humana.
Agricultura orgânica ainda não é a solução
completa
A agricultura orgânica tradicional é um avanço em relação à anterior, mas ainda sim reduz bastante a biodiversidade e enfraquece os solos pela demanda de recursos. Fonte |
Pensando em trazer mais biodiversidade e
abolir o uso de venenos e fertilizantes químicos, a agricultura orgânica tem a
missão de usar a sabedoria ancestral e tecnologias naturais para controlar
insetos e outros seres que destroem as plantas cultiváveis. Este sistema é
muito mais avançado do que o primeiro e, geralmente, a ideia é trazer mais
diversidade à horta, sendo que várias plantas são cultivadas juntas (plantas
amigas) e outras plantas são usadas como afastadoras de pragas (citronela,
hortelã etc). Atualmente, mais e mais pessoas estão aderindo a este sistema e
os consumidores, por conta da dispersão de conhecimento sobre os perigos dos
agritóxicos, estão apoiando cada vez mais. Apesar disso, a agricultura orgânica
tradicional ainda se mantém pressa na visão anterior, em que há desmatamento de
toda a área de plantio e tratamento posterior do solo. Assim, apesar de abolir
os venenos e trazer mais diversidade, ela ainda não é ideal, principalmente
quando pensamos em uma solução que preserve a biodiversidade da floresta.
Plantando florestas
Ainda mais eficiente do que o sistema tradicional de agricultura orgânica, a agrofloresta tenta imitar a floresta original, trazendo de volta a fauna e flora silvestre e produzindo alimentos em boa quantidade. Na foto, um sistema agroflorestal de óleo de palma. Fonte |
A maioria
dos sistemas agriculturais atuais possuem uma única espécie, mas adicionar
árvores a estes cultivos, somando espécies de sombra, arbustos e outros pode
ajudar a copiar o sistema florestal anterior. Pensando em imitar sistemas
florestais e ainda produzir alimentos, criou-se a ideia de sistemas
agroflorestais. Um sistema agroflorestal é um sistema dinâmico que integra a
paisagem, árvores e cultivo de alimento, aumentando os benefícios ambientais,
sociais e econômicos. Em um sistema simples é possível misturar cultuvo de
feijões no meio de laranjeiras, mas em sistemas mais complexos, cultivos
rasteiros são integrados com árvores frutíferas, arbustos e outras espécies,
que podem produzir madeira, fibras e outros produtos ou apenas sombra. Além da
produção de alimento, estes sistemas auxiliam no sequestro de carbono, proteção
da biodiversidade, proteção do solo e mananciais e aumenta a fixação de
nitrogênio no solo, composto importantíssimo para as plantas. Por fim, estes
sistemas são mais socialmente viáveis e justos, pois, ao produzir diversidade,
evitam que o agricultor fique refém de fontes externas de dinheiro.
Recentemente,
um estudo de 2014 financiado pelo TEEB Brazil demonstrou que sistemas que
incorporam biodiversidade nos cultivos alimentíceos são mais eficientes que
monoculturas, demonstrando que sistemas agroflorestais são bastante eficientes.
Por fim, vale lembrar que a maioria das terras desmatadas no mundo são usadas
para produção de alimento para animais de criação e que somente a mudança de
uma dieta onívora para uma dieta vegetariana-estrita já iria privar terras
suficientes para conservar diversos biomas do mundo, sem que mesmo fosse
necessário a criaçãod e agroflorestas, afinal, a produção de vegetais e frutas,
necessita de bem menos terras do que a produção de grãos para animais.
Latifúndios de agrofloresta ou jardins floresta
de pequenos produtores?
A descentralização do modelo latifundiário vai além da agrofloresta, tendo que ser necessária a sua adequação em jardins florestais para maior justiça social. Fonte |
Apesar das
agroflorestas ainda serem uma solução bastant einteressante para a proteçãod a
biodiversidade, ainda é preciso apontar que os jardins floresta são ainda mais
efetivos do ponto de vista ecológico e de proteção das comunidades contra
grandes corporações detentoras da produção alimentar. Atualmente, por não
fazerem parte do status quo, o sistema agroflorestal é usado apenas em pequena
escala e por pequenos agricultores, mas se este se tornar a norma, é possível
que problemas relacionados ao direito à terra ainda não sejam solucuionados,
pois grandes florestas pertencentes a uma única empresa multinacional podem se
tonrar os novos latifúndios do futuro. Assim, uma solução possível é sempre
apostar nas pequenas produções ou jardins florestais, os quais são muito comuns
em sistemas permaculturais. Nestes jardins, ao invés de hortas convencionais,
são cultivadas pequenas florestas de frutíferas, árvores maiores, arbustos,
plantas medicinais, leguminosas e todo tipo de planta, que consigam imitar o
ecossitema local, mas tudo em pequena escala, a qual ajuda a produzir alimento
para as famílias que ali plantam e ainda gerar excedentes que podem ser
vendidos na feira. Claro que tudo isto sem uso de agrotóxicos, até porque a
própria biodiversidade ajuda a controlar a promoçãod e pragas.
O que plantar em seu jardim florestal
O Brasil é rico em plantas comestíveis não tradicionais e cheias de proteínas, vitaminas e minerais. Fonte |
No Brasil,
pode-se apostar em árvores frutíferas nativas, castanhas para proteína,
abóbora, abobrinha, leguminosas, ervas medicinais e, principalmente em plantas
alimentíceas não convencionais, que são ótima fonte de alimento. Por fim,
pode-se usar os espaços da casa, como paredes e teto, para a criaçãod e uma
horta de verduras convencionais.
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