Reflexão Sobre a Cidade Auto-Suficiente - Um Modelo Para o Futuro?
As casas de Vauban são desenhadas para aproveitar o máximo do verão e inverno. Fonte |
Quem já não
teve uma daquelas discussões de horas sobre o que os políticos ou os grandes
governos do mundo poderiam fazer para melhorar a condição de vida das pessoas e
a preservação ambiental? Pensamos em mil soluções e sempre dizemos: “é óbvio!”,
“é tão simples!”. Sim, de fato, a solução já existe, isso nós sabemos, mas sem
coração ou sem vontade, nada se faz!
Assim, nós
sabemos que é possível fazer um mundo livre de petróleo e totalmente
auto-suficiente em energia, usando energia solar, geotérmica, eólica,
mini-hidreléticas, biodigestores* e principalmente, um sistema descentralizado,
em que cada casa produza a quantidade que necessita, acabando com o mercado das
corporações de energia.
Mais do que
isso, podemos pensar em uma arquitetura totalmente sustentável, que use a
prórpia terra do local, utilize todo o espaço possível para produzir alimentos
(teto vivo e horta vertical) e não desperdice água. Podemos fazer cozinhas
comunitárias, onde todos ajudem e até transformar a cidade em uma grande
creche, onde todo mundo vira pai e mãe das crianças. Enfim, tem muita ideia
nova rebrotando por aí e é por isso que atualmente já temos algumas cidades
exemplo, sendo uma das mais bem sucedidades a cidade de Vauban, em Freiburg, na
Alemanha.
Não é perfeita, mas podemos melhorar
Casas em Vauban são auto-sufcientes em energia, usando sistema descentralizado. Fonte |
Ao contrário
do que a maioria dos textos sobre Vauban diz, a cidade de Vauban não é perfeita.
Ela é um exemplo e um modelo de cidade sustentável que ainda vive dentro de
conceitos capitalistas e individualistas. A cidade tem muitos pontos positivos
e um dos principais é que o sistema de produção de energia não é só independente
do petróleo (o que não é novidade), mas é descentralizado (aí sim algo
inovador). Assim, em Vauban, cada família possui sistemas próprios de geração
de energia, produzindo tudo que usam, sendo o excedente doado para a rede
pública.
Neste único
caso Vauban nos traz algo de extremamente inovador e fere com a lógica do
capital, pois a produção de energia não tem, em nenhum momento, a função de
produzir lucro para alguém, mas sim tem como único propósito facilitar a vida
da comunidade. Por fim, o que sobra também não é vendido, desmoronando aquele
velho conceito capitalista de que precisamos de dinheiro para ter as coisas,
afinal, aqui, nós vemos que podemos produzir tudo que quisermos e apenas trocar
em prol do coletivo.
Modelos de administração descentralizados empoderam o cidadão e geram qualidade de vida. Fonte |
Além da
produção energética, Vauban foi construída de uma maneira que valorizasse os
meios de transporte ecológicos, priorizando a bicicleta, o andar e o patinete.
Neste caso, as ruas são estreitas e todas possuem ciclovias, enquanto que os
estacionamentos para carros ficam na periferia da cidade, forçando os
visitantes a andar de bicicleta dentro da cidade. Assim, 70% da população não
tem carro.
Por fim,
Vauban tem uma política de reciclagem do lixo muito eficiente, mas como
sabemos, a maioria do lixo atual não pode ser reciclado e o símbolo de reciclável
só serve para afagar nossa cosnciência, pois papéis plastificados, mistura de
papel com alúminio ou plástico, embalagens com alimentos ou óleo não são
recicladas quando chegam à central e é por isso que Vauban, apesar de estar
tentando, ainda vive no passado com relação à política de lixo, pois apesar de
tentar reciclar tudo, hoje sabemos que é mais importante reduzir o consumo do
que consumir muito e limpar a sujeira depois.
Precisamos de exemplos imperfeitos para
melhorar depois
Em Vauban, o carro não é uma prioridade. Fonte |
Vauban é um
exemplo imperfeito, mas não deixa de ser válido, afinal, que cidade faz o que
ela faz? Atualmente, existem projetos de ecovilas que vão muito além de Vauban,
mas para uma cidade de grande porte, até que Vauban é um grande exemplo de
pioneira para o futuro e é dessa maneira que precisamos pensar!
Se eu fosse melhorar Vauban, o que faria?
Podemos melhorar Vauban com técnicas de permacultura. Fonte |
Acredito
que atualmente podemos apostar na construção de cidades descentralizadas. Isto
quer dizer que toda a produção de energia, a reparação das moradias e ruas, as
responsabilidades administrativas e tudo o que diz respeito à cidade deve ser
responsabilidade de cada indivíduo e não de um grupo eleito por todos. É a partir
da descentralização da responsabilidade que nós podemos nos sentir verdadeiros
sujeitos e construtores da cidade. É aí que nós vamos sentir a cidade como
nossa, de fato, e a chance será muito menor de acontecer depredação ou de
alguém não saber para onde vai seu lixo, como a energia é produzida, de onde
vem o alimento etc.
No modelo centralizado atual, as pessoas estão alienadas e não sabem exatamente quais as consequências de seus hábitos de consumo. Fonte |
Hoje, nós
vivemos em um conceito centralizado e alienante de cidade e é por isso que
tanta gente que quer ajudar a melhorar a sociedade faz coisas tremendamente
contraditórias, como economizar água da torneira, mas comer carne, ou tentar
reciclar tudo, mas consumir desenfreadamente todo fim de semana. Isto é um
problema muito sério de alienação, pois o sistema centralizado acaba por
responsabilizar apenas uma parte das pessoas e consequentemente, o conhecimento
fica estancado em alguns setores da cidade e principalmente nas elites econômica
e intelectual.
Além de
descentralizar tudo, aqui vão ainda alguns pontos para fazer a Vauban do
futuro:
Casas de adobe controlam a temperatura ambiente e usam o material do próprio local. Fonte |
- casas de adobe (são construídas com o
material do próprio local e pelos locais). Diminui gasto de energia com
transporte de materiais e depredação de locais afastados com mineração de
materiais.
- Teto vivo: aumenta a superfície de
plantio e ajuda a controlar a temperatura do interior das casas, sem uso de
energia externa.
- Banheiro seco – diminui poluição das
águas com fezes humanas e seu desperdício. Gera adubo para frutíferas. Diminui a
pressão sobre os sistemas de esgoto.
- Esgoto
de bananeira (ou outro sistema mais adequado a clima temperado) – usa esgoto
como matéria orgânica, gerando alimentos e despoluindo a água naturalmente.
- composteira – orgânicos não são lixo.
Gera-se adubo de qualidade para a horta comunitária e diminui-se o lixo urbano.
- *biodigestor – é um sistema de composteira
mais moderno que guarda o gás metano liberado da composição da matéria orgânica
pela composteira. Este gás pode ser usado como gás de cozinha e gerar energia.
Agroflorestas são um novo conceito de juntar florestas com produção alimentar. Fonte |
- redução do consumo – consumo é mais um
passa-tempo que necessidade. Diminua este passa-tempo, gerando parques e
atividades dentro da comunidade que enfatizem a diversão não consumista.
- hortas verticais – diminui gastos com
transporte de alimentos e elimina uso de agrotóxicos.
- Agrofloresta – é possível produzir
alimento na floresta do entorno da cidade, moldando-a com frutíferas do local.
Diminui gastos com transporte, elimina agrotóxcos e adubos químicos, traz vida
silvestre de volta à cidade e aumenta qualidade de vida.
Enfim, são
muitas as técnicas e, como vimos, o que falta mesmo para pô-las em prática é a
nossa vontade de agir. Vamos arregaçar as mangas, então e começar a transformar
nossa cidade em uma grande Vauban melhorada.
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