Por que Você Não Consegue Parar de Consumir, Mesmo Sabendo Que Não Deve
Mesmo quando queremos ver, consumimos. Por quê? Fonte
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Eu andava
pelas ruas e milhares de pessoas esbarravam em mim, comprando e buscando
enfurecidas pelo mais novo modelo de calça jeans, aquela blusinha da nova cor
da moda, aquele aparelho eletrônico super moderno e aquela bebida descolada que
promete te deixar mais jovem e pilhado em uma pista de dança. Eu não me sentia
um alien a tudo aquilo. Eu também olhava e me sentia atraída por todas aquelas
bugigangas bem baratas, por aquelas novas cores e, de repente: comprei! No
mesmo momento me veio o pensamento de que eu não precisava daquilo e pensamentos
de consolação, como “mas desta cor você não tem”, “mas estava tão barato”,
enfim, todos estes pequenos pensamentos de consolação.
Até as elites precisam do planeta para existir. Fonte |
A verdade é
que nós não sabemos exatamente o que nos leva a comprar tanto, mesmo sabendo
que não precisamos. De fato, o consumismo excessivo não é somente o responsável
pela degradação do meio-ambiente, mas também pela degradação das relações
pessoais e também pelo endividamento em massa de milhões de pessoas,
principalmente pessoas pobres, que ficam ainda mais pobres.
Esta
lógica, claro, é algo que beneficia o sistema de especulação (juros, bancos
etc) e o sistema capitalista como um todo, pois quanto mais consumo existe no
mundo, mais giro de capital existe. Apesar disso, esta lógica não beneficia a
humanidade e nem mesmo quem se sente diretamente beneficiado por ela (como os
acionistas e corporativos), afinal todos nós vivemos e dependemos de um só
planeta e este planeta está sendo engolido e dissimado a uma velocidade
bastante alta.
Assim, se
no final das contas e, à longo prazo, o sistema de consumo desenfreado não vai
beneficiar ninguém, por que consumimos tanto? Por que mesmo nós, que pensamos
nas consequências do consumismo, ainda não conseguimos ser como aquela pequena
minoria de pessoas que deixou o consumismo de lado e vive de maneira quase
auto-suficiente?
Trabalhar até morrer. Não é tão simples assim! Fonte |
Bem,
recentemente eu li um artigo do autor anarquista David Cain (“Your life style has already been planned", clique aqui), em
que ele fala sobre como o regime de 40 horas semanais de trabalho não foi concebido
por acaso, mas por razões muito claras.
De acordo
com Cain, várias pesquisas realizadas por diversas corporações já mostram que
um trabalhador médio só produz aproximadamente três horas por dia, sendo que em
seu resto de tempo de trabalho, ele apenas tenta, por conta do cansaço. É a
partir daí que o autor se pergunta: por que não diminuir a carga horária, se as
próprias empresas não ganham com isso?
Bem, a
resposta é muito mais macabra do que aparenta! Segundo o autor, trabalhar 40
horas semanais ou mais (mesmo que a pessoa não produza) faz com que a pessoa
chegue exausta em casa, além de não ter tempo para sua vida pessoal. Isto
então, cria depressão, doenças psiquiátricas, tristeza e toda uma série de
emoções negativas, como tédio, sofrimento e fome emocional, fazendo com que a
pessoa busque prazer na única via mais fácil e que ainda tem tempo para
realizar: o consumo.
Quando eu
li este texto, eu não acreditei. Eu já tinha pensado nesta questão das 40 horas
(48 no Brasil) e sobre o porquê das empresas imporem regras de comportamento
nefastas e chatas ou de nos obrigarem a trabalhar sem parar, sendo que nada
disso era necessário, mesmo dentro da lógica de produção do capital. A verdade
é que tristeza e depressão aumentam o consumo e é por isso que eu, você e a
fulana e o ciclano que, mesmo debatendo em mesas de discussão, lendo livros
filosóficos, remodelando nossas mentes para o não-consumo, nos vemos com uma
fome tão tremendamente avassaladora pela compra, pelo consumo e pela informação
fácil. O fato é que estamos pobres de alma e de alegrias e a direção que nos
ensinam a tomar quando isto acontece, é obter uma alegria passageira e fugaz no
consumo.
Precisamos fazer um esforço mental para sair da corrente. Fonte |
Bem,
atualmente eu venho tentando sair um pouco desta lógica. Eu penso em tudo que
eu compro e na origem de tudo. Mesmo quando eu vou comprar farinha, eu leio os
ingredientes, eu penso no que seria aquele “agente de tratamento de farinha” ou
eu penso no trabalhador que moeu o trigo. Sim, fazer isto todas as vezes
demanda energia e disposição e não se faz de um dia para outro. Demanda um
esforço mental grandioso, assim como precisamos gastar mais energia para nadar
contra a corrente, do que para nadar pela corrente.
De fato, o
exercício de pensar na origem dos produtos que consumimos ajuda muito a acabar
com o sofrimento no mundo e no fim da degradação ambiental. Mais que isso,
temos também que fazer o esforço para não comprar algo ou pensar se é possível
fazer um produto, ao invés de comprá-lo. Assim, você deve sempre refletir se
precisa mesmo de xampu, de tintura, de pasta de dentes e se sim, se você mesmo
não pode fazê-lo em casa com produtos mais simples. Além disso, porém, há algo
além de toda esta tática, que é comumente afirmada em redes de anti-consumismo,
afinal, como vamos conseguir tanta energia para gastar neste esforço mental, se
estamos exaustos?
A cura para nosso zumbi do consumo está dentro de cada um de nós. Fonte |
É então aí
que entra a reflexão sobre nossa depressão. Não estaríamos consumindo em grande
parte por conta de nossa fome de amor? Não estaríamos destruindo o planeta
simplesmente pelo fato de que todas as nossas relações sociais e pessoais nos
foram cortadas? Não estaríamos nós cansados e zumbis, não apenas porque somos
educados para sermos alienados, mas também porque a própria exaustão que o
sistema nos leva nos deixa dopados? Esta é uma questão para se pensar e, antes
que resolvamos ser anti-consumistas, precisamos tentar entender o quão famintos
estamos e como conseguimos sanar nossa fome de amor dentro de um sistema que
faz de tudo para nos deixar famintos, afinal 48 horas semanais nunca foi e
nunca será por acaso.
Na próxima
semana no blog: Deprimidos e Consumistas
- -como fugir do ciclo da tristeza
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