O Poder Místico da Menstruação
O sangue menstrual foi mal interpretado. ele é poder e não desvantagem! Fonte |
A menstruação
é sempre vista como algo ruim em nossa sociedade. Na mídia ela é sinônimo de
TPM, mulher chata, chorona e sangue azul. Para as mulheres, ela é sinônimo de
dor e complicações durante o trabalho e para a maioria dos homens, ela é
sinônimo de abstinência sexual e mau-humor por parte da mulher (mesmo que ela
não o apresente).
Por que a
menstruação é vista desta maneira? Bem, primeiramente existe de fato uma
verdade biológica de que muitas mulheres sentem cólicas e mudanças de humor
durante este período, mas não são todas e nem todas passam por ambos os
sintomas e às vezes até por nenhum. Apesar disso, o principal fator de desdém
com relação à menstruação é que a imagem sobre o que ela é, é formulada e
pensada por homens, os quais ocupam a maioria dos postos de publicidade e
propaganda e de jornalismo, além de terem sido, durante muito tempo, aqueles a
estudarem a questão como médicos e cientistas. Além disso, a história das
mulheres foi e é abafada pela história dos homens brancos, provindos de
determinadas famílias com alto poder aquisitivo, o que fez com que, durante
muito tempo, o conhecimento a respeito da menstruação, como lidar, como
interagir e, principalmente, como refletí-la foi sendo banido e esquecido, fazendo
com que a mulher – condicionada a um papel de subsserviência, esquecesse o seu
poder e importância.
Antes do patriarcado
O feminino e seu poder foi massacrado e esquecido. Até agora! Fonte |
Há muito
tempo atrás, no período Neolítico, antes das grandes civilizações que estudamos
no período da História Antiga (Babilônia, Egito etc) as tribos e suas pequenas
aglomerações eram regidos por sistemas matriarcais. Ao contrário do que se
pensa geralmente, um matriarcado não funciona como um patriarcado, em que um
dos gêneros é oprimido. Nele, ambos os gêneros viviam em harmonia, dividindo o
poder.
Foi nesta
fase que a veneração da Deusa se fez com mais sucesso, sendo ela adorada pelos
gregos, celtas e povos asiáticos, como indianos, deixando sua influência
através das sacerdotisas e oráculos de Delfos. Nesta época, a relação da mulher
com o seu próprio corpo não era renegada, como hoje é pregado pela maioria das
religiões patriarcais, mas era refletido e assumido como sagrado. Um desses
aspectos era a menstruação e, atualmente, grupos de estudos sobre o Sagrado
feminino tentam se voltar para estas questões novamente e entender o poder
místico da menstruação.
Misticismo atual
Deus homem criou o homem a sua imagem e semelhança e a mulher é o que mesmo? Fonte |
Quando
comecei a me interessar por misticismo, comecei a me dar conta de que a maioria
dos iluminados antigos e atuais eram homens. Tendo por base a ideia de que
somos todos iguais, algo não fazia sentido: se a mulher tem a mesma capacidade
de se iluminar do que os homens, por que só há homens iluminados?
Alguns me
respondiam que a mulher iluminada tinha uma missão mais humilde (típico
esteriótipo do feminino) e que ela preferia não aparecer. Outros me diziam que
as mulheres iluminadas atuavam mais no campo do amor e subserviência (outro
esteriótipo) e que os homens, voltados mais para a ação e heroísmo (típico do
masculino esteriotipado) apareceriam mais. Não me convenci.
Esta dúvida
não me incomodava apenas porque a ideia de igualdade entre os gêneros do
misticismo (principalmente budista) não fazia sentido, mas por que na maioria
das escolas, as questões apenas relativas ao feminino eram ignoradas ou
esteriotipadas. No caso, homens diziam que mulheres não poderiam fazer
determinadas técnicas de ioga quando menstruadas, pois no período menstrual, a
energia estaria virada para o polo negativo e não para o polo de subida rumo à
iluminação.
Nada disso
me convencia e a ideia de que a mulher tivesse uma desvantagem mística* também
me deixava inquieta. Depois de muita pesquisa, aprendi que as mestras
iluminadas estavam em todos os lugares, mas elas não faziam tanto sucesso e
eram ignoradas pela mídia. Dentro disto, descobri que o misticismo masculino,
muitas vezes, influenciado pelos preconceitos da sociedade patriarcal,
relegavam à mulher ou ao feminino uma visão esteriotipada, de subserviência,
emotividade, anti-razão e negatividade com relação ao orgão genital feminino,
ciclo menstrual, ignorância sobre o orgasmo feminino, entre outros. Por fim,
foi a vez de descobrir uma visão empoderada sobre a mulher mística, a
feiticeira e a bruxa e foi então que cheguei ao poder místico da menstruação.
O que significa menstruar?
fomos ensinadas que menstruar significa dor e bebês que não vieram, mas há muito mais além disso. Fonte |
Tirando o
lado fisiológico, o que significa menstruar? Durante o período menstrual, a
mulher entra em contato com um lado menos sociável e não é pelo mau-humor, que
pode ou não existir. Neste momento, a mulher pode deixar de lado a atenção que
muitas vezes dá ao sexo oposto (ou não) e à família e olhar para si mesma. É
neste período que dura ao redor de cinco a sete dias que a mulher pode usar
todo o seu poder interno e de reclusão para meditar sobre sua sombra, seu real
ser e descobrir o que é. O sangue que sai do corpo também tem um grande poder
místico. Nele saí tudo que a sabedoria do corpo não quer mais. Assim, as
emoções negativas, as energias ruins e também o que é velho e tem que ser
reciclado vai embora e dá espaço para um sangue novo, que será construído no
novo organismo sempre em mudança. Meditando sobre o sangue, a mulher olha para
sua sombra ou aquele ser que muitas vezes nega ou que quer renovar-se. Ela pode
descobrir seus defeitos e trabalhar sobre eles.
Mas e além
disso? É olhando para si mesma e para o sangue velho que corre, que a mulher
pode encontrar sua criatividade e seu poder de criar. O sangue é matéria viva,
orgânica e ele pode dar lugar ao nascer de uma nova planta adubada ou a um
trabalho artístico, ou seja, a menstruação é um dos ápices do poder criativo
feminino, assim como a gravidez. Por fim, é durante a menstruação que a mulher
pode escolher se responsabilizar pelo seu sangue e escolher agir
conscientemente, com relação aos impactos de seus atos na sociedade: lixo
absorvente ou copos menstruais? Esta é uma questão que a mulher pode se colocar
(veja mais sobre isso no post: “ecoativismo e o monstro menstrual”).
Homens e a menstruação
Todos podem aprender com o poder místico da menstruação. Fonte |
Os homens
não devem se sentir excluídos durante este período. Aqui, o casal pode se
recluir e encontrar dupla inspiração para refletir sobre si mesmos. Além disso,
é possível estudar sobre o poder do sangue e do poder de gerar a vida (todo ser
humano tem este poder), que é simbolizado pelo sangue da mulher, que se renova.
Abaixo,
deixo um vídeo sobre o poder místico da menstruação. Eu acredito que o
ressurgimento do misticismo feminino pode ajudar muitas mulheres e homens a se
livrarem das amarras que o patriarcado fez nascer nos dogmas religiosos atuais.
O poder de recriar-se deve pertencer a todos indivíduos, independente do sexo,
e neste ponto é importante que a visão negativa ou esteriotipada da mulher
dentro do misticismo seja substituída por uma visão mais justa do que é o poder
feminino e da sua força. Na nova era haverá mãe e pai místicos! Nem só pai, nem
só mãe.
Vídeo
*em muitas escolas de misticismo a mulher, durante o período menstrual, teria seu polo energético virado ao contrário em direção ao chão, ou queda. Neste sentido, algumas técnicas de subida da energia rumo aos chakras superiores (rumo à cabeça) só poderiam ser realizadas pelos homens. Ora, como é possível que a afirmação de que homem e mulher são iguais no misticismo faça sentido se as mulheres têm uma desvantagem, ou seja, têm menos tempo para desempenhar práticas de ioga do que os homens simplesmente por menstruarem uma vez por mês? Meu conceito de justiça divina de igualdade entre todos os seres humanos e natureza não batia com o conceito de desvantagem geralmente pregado pelo misticismo patriarcal. Ou o misticismo patriarcal estaria errado ou o homem seria de fato superior à mulher. Preferi acreditar na primeira afirmação e seguir minhas pesquisas.
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