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Permacultura – Renovando Os Restos Para Gerar Vida

Por: Camila Gomes Victorino



Para onde vai nosso lixo? Três vezes por semana o lixeiro passa e carrega o lixo gerado para algum local misterioso, onde trabalham pessoas que vivem do lixo. O lixeiro é nosso salvador e a partir do momento em que colocamos o lixo para fora de casa, milagrosamente ele desaparece, mas não é somente ele!
Na permacultura, tudo o que se gera, volta, enquanto que em nossa sociedade, de lógica linear, o que se gera, raramente retorna, gerando poluição. 

Quando vamos ao banheiro, tomamos banho ou lavamos a louça, para onde vai a água suja? Nós sabemos que ela vai para a rede de esgotos e ficamos felizes pelo fato de existir algum cano conectado a nossas casas que leve a sujeira para fora.
Mas e o que dizer dos poluentes que os transportes que utilizamos geram? Para onde eles vão? Eles vão para o ar, que é tão infinito como o tamanho da Terra, o que nos leva a pensar que seja fácil dispersar a poluição. E nossos móveis, computadores velhos, eletrodomésticos? Para onde eles vão depois que o senhor da carroça de madeira passa para pegá-los? E nossas roupas velhas? O que acontece com elas quando estão tão velhas que nem o mais pobre as quer?
Por mais que os lixões tentem esconder nossos restos, eles ainda continuam lá e novos lixões serão formados enquanto permanecermos dentro da lógica linear.


Bem, faço estas perguntas para gerar em vocês, leitores, a percepção de que nosso ciclo de sobrevivência não é fechado, mas aberto. Assim, ao invés de ser constituído por um círculo, onde o que produzimos volta para nós, renovado, ele é constituído de uma linha, onde o que geramos não volta para nós, de maneira renovada e, portanto, para não se acumular em nossos lares, gerando doenças, ele deve ser afastado para algum lugar "milagroso”, que nos permita viver longe o suficiente dele para não adoecermos.

No caso, o lugar milagroso é um grande terreno que armazena todos os nossos restos. No Brasil, estes terrenos são chamados de lixões, mas nos países “desenvolvidos”, os lixões são apenas mais bem organizados, contendo camadas, com pessoas capacitadas, mas ainda assim terrenos de armazenamento de restos humanos.

O problema começa quando trabalhamos com locais finitos; o planeta é finito e se nossos ciclos são lineares, um dia estes terrenos não comportarão todos os restos que produzimos, o que fará com que busquemos outros terrenos, até que por fim, não haja mais espaço sadio habitável em nosso pequenino planeta.
Por mais que saibamos que a Terra é finita, não paramos de polui-la com nossos restos, que nunca se renovam.

Aliás, parece muito absurdo pensar que estamos tão cegos a ponto de procurar expandir nossos terrenos milagrosos, mas isso já está acontecendo: nos países "desenvolvidos", onde os restos da população são enormes, devido ao consumismo exacerbado, o lixo é comumente exportado para a África. Possivelmente, eles pensam que estão tirando vantagem ao poder usar de seu poder político para transformar um continente inteiro em um lixão, mas e quando a África estiver entupida? Ásia? América Latina? Antártida? Oceanos? Bem, mesmo que os planos de colonização de Marte deem certo, não é justo que nossa espécie vá destruindo planetas e mais planetas, deixando sempre um rastro para trás, não é mesmo?


Pensando nisso, os conceitos cíclicos de permacultura foram elaborados. Esta palavra não é muito conhecida, mas ela esconde conceitos que podem modificar para sempre o modo como vemos o mundo!
Na permacultura, todo o nosso ciclo de vida é organizado e planejado de maneira a não sobrar excedentes, fazendo com que nossos gestos se renovem. Sendo assim, meu lixo orgânico virará adubo para minha horta urbana; meu esgoto será renovado por filtros biológicos e transformado em água limpa; a água que uso, volta limpa para os rios; os materiais que utilizo são todos renováveis e nada sobra, tudo se transforma e volta para a Terra, de modo que possamos captá-los novamente! Assim, é fácil entender que uma cidade, um sítio, uma comunidade planejada, através das tecnologias e pensamentos permaculturais, não gera poluição e lembre-se: se todos fazem sua parte, todos devem ter o direito de aprender, de compartilhar e desta maneira, a injustiça social não tem seu lugar dentro das sociedades permaculturais.
Apesar de parecer utópico, muitas comunidades foram bem-sucedidas ao utilizar os conceitos permaculturais.

Parece utópico, mas veja os exemplos de ecovilas e algumas pequenas cidades que estão sendo bem-sucedidas ao utilizar a permacultura, no final do texto. Além disso, você pode testar em casa, pois não é porque vivemos em uma cidade de lógica linear, que não possamos fazer nossa parte e transformar nossos ciclos familiares ou individuais em algo cíclico. Há muitas possibilidades permaculturais para as cidades: horta vertical para apartamento ou casa, captação de água da chuva por calhas direcionadas, composteiras domésticas para transformar lixo orgânico em adubo, aquecedores solares de água e até tecnologias que diminuam nossa geração de lixo, como fraldas e absorventes renováveis, produtos de limpeza não poluentes, como vinagre em substituição ao amaciante ou uso de sabão de coco, no lugar do sabão em pó, bucha vegetal no lugar da bucha de plástico para lavar louça, enfim, são muitas as possibilidades de transformação no nosso dia-a-dia e confiram nossos posts, que sempre trazem dicas ecológicas para a mudança individual.


Ainda tem mais: se você pensa que permacultura é só assunto de ciclos vitais e ecologia, vocês está muito enganado! A permacultura, visando a renovação do que geramos em uma nova vida, também direciona seus conceitos para a transformação interior, afinal, lixo não é só lixo material! Emoções negativas, ódio, preconceito, mal-humor, tudo isso é lixo que jogamos no outro! Este é um lixo psicológico que gera uma poluição muito peculiar: a violência.
Com sua lógica cíclica, a permacultura possibilita também que as emoções se renovem para mais justiça social.


Assim, desde já a permacultura abre portas para o desenvolvimento de uma comunidade cíclica em todos os sentidos. Aqui no blog, muitos posts dão dicas de como acabar com nosso lixo psicológico. Fique atento e descubra sempre uma nova dica para fazer de sua vida, uma vida cada vez mais harmoniosa com o todo! Não pense que agir conscientemente é chato! Na verdade, é tão transformador que enriquece nossas vidas, diminuindo o vazio que comumente sentimos nessa sociedade, que querendo ser tão racional, não passa de um dos maiores absurdos da irracionalidade.

Exemplos de tentativas permaculturais que deram certo:
O Ipema, além de ser um exemplo bem-sucedido, oferece cursos de bio-construção em Ubatuba.

IPEMAO IPEMA (Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica) é um terreno totalmente auto-sustentável, onde habitam algumas pessoas que geram seu próprio alimento e energia. Mesmo a energia elétrica é gerada por gerador próprio. A produção de lixo é quase zero, o que se deve ao fato de ainda consumirem alguns produtos de plástico ou que requerem reciclagem.
TerraUna



TerraUnacomunidade de ecovila, fundada por grupos que compraram o terreno em conjunto. Baseada nos princípios permaculturais de bio-construção.

TodMortencidade no Reino Unido, onde todo o alimento é produzido nos jardins públicos da cidade e compartilhado com toda a população. Todos os habitantes trabalham conjuntamente e voluntariamente para manter o sistema. 

Ashrams são comunidades geralmente esotéricas que buscam acabar com a poluição emocional e levar à iluminação. Os ashrams são locais de elevação espiritual e se tornaram mais conhecidos através de Gandhi, que os popularizou. Neles, princípios de lógica cíclica são empregados! Mesmo os tecidos eram fabricados pela comunidade, através do khadi (fiação como libertação da zona de consumo).


Existem muitos outros exemplos que podem ser compartilhados através dos comentários, caso você conheça algum. Lembre-se que sempre haverá esperança enquanto existir um último ser humano inquieto por sabedoria.



Paz!


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