Os Novos Desafios Da Energia Limpa
A energia limpa pode se tornar mais uma algema da liberdade humana se não discutirmos e entendermos seu processo de privatização. Fonte: EnergiaEficiente |
A energia limpa é o futuro da humanidade e sem ela é bem
possível que desapareçamos como espécie. Assim, as novas tecnologias de energia
limpa, como a solar e eólica, bem como a geotérmica e a energia proveniente da compostagem de resíduos orgânicos têm
por si só uma importância capital para nossa sobrevivência, porém sua
importância vai além do viés tecnológico, afinal mudar para um sistema que explora a natureza, considerando-a infinita, para um sistema que coexiste com
os recursos naturais, nos transforma de espécie parasita em espécie comensal
existente no planeta.
Apesar dessa grande mudança de pensamento, todavia, acredito
que a energia limpa ainda está cheia de desafios e não me refiro aos problemas
técnicos enfrentados atualmente.
Recentemente, a maior usina solar privada do mundo foi inaugurada.
Anteriormente, já existia uma usina solar em Abhu Dhabi, mas a "Ivanpah Solar
Electric Generating System", localizada na Califórnia, roubou este posto e reúne
mais de 300.000 espelhos, que focam a luz solar, aquecem água e geram vapor que
giram turbinas, o que finalmente produz energia elétrica.
A Ivanpah é mais uma das grandes produtoras de energia privada a partir da luz do Sol. Fonte: BrightSourceEnergy |
Qual o problema com esta imagem? A maioria das notícias que
vi a respeito desta usina falava com felicidade de um futuro possivelmente
próspero. Eu acredito que é realmente um progresso construirmos usinas a luz
solar, já que na década passada ainda aprendíamos e acreditávamos que usinas
hidrelétricas seriam o futuro (usinas estas que devastam ecossistemas e povoados
tradicionais inteiros). Entretanto, apesar do progresso, eu acredito que exista
um problema sério com esta imagem e este se refere ao fato de que a produção de
energia ainda continua centralizada e privada e, isso, mesmo quando se trata de
energia solar.
Bem, vamos nos lembrar que há muito tempo atrás a terra era
direito de todos, mas algumas pessoas mais fortes e mais violentas passaram a
cercar a terra e a matar quem se atrevesse a atravessar. Depois de séculos de
cerceamento, as pessoas passaram a acreditar que a propriedade privada era
direito divino ou algum tipo de direito político e a maioria, até hoje, nem ao
menos contesta a existência de muros.
Nós nos acostumamos a ver o mundo como pedaços de papel. Se continuarmos assim, em breve o Sol também será propriedade de poucos. Fonte: MaisJustiçaSocial |
Depois da terra, veio a água. A água, durante muito tempo,
era recurso público e de todos, mas ela começou a ser poluída e companhias de
tratamento surgiram para limpá-la. Nisso, começaram a cobrar pelo serviço e
hoje, em alguns lugares, inclusive no
Brasil, mesmo a coleta de água da chuva ou uso de nascentes naturais pode
acarretar multa.
Pois bem, a terra e a água foram transformadas em produtos e
atualmente novas patentes têm surgido para transformar as sementes e o material
genético das plantas em propriedade privada. Claro que atualmente as pessoas
vêem isso com desconfiança, mas é possível que alguns séculos de lavagem
cerebral escolar façam com que as futuras gerações jurem de pés juntos sobre a naturalidade de pagar uma pequena taxa de royalties a família Angel para comer
tomate e beterraba.
Atualmente, campanhas de conscientização são necessárias para alertar as pessoas de que a água é um direito de todos. É possível que daqui há uns séculos, vento e sol também precisem de campanhas. Fonte: Esquerda.net |
Mas e a luz do Sol? É com tranqüilidade que a maioria das
pessoas aceita que uma grande companhia pegue a luz solar e a transforme em
energia elétrica e a venda depois, afinal a empresa gastou dinheiro com
equipamentos para montar os espelhos e toda a aparelhagem. Sim, isso é verdade,
mas daqui há cem anos isso ainda será verdade, quando quatro ou cinco companhias
detiverem o monopólio da venda de luz do Sol para a população? Eles investiram
no passado, pois bem, mas passados 400 anos, como um investimento pontual em manutenção e mão de obra pode ser um
critério para deter o monopólio da luz solar? Além desta questão, ainda me
pergunto sobre as leis que serão criadas para proibir pessoas comuns de
produzirem energia em suas próprias casas a partir do Sol. Obviamente
que se continuarmos a pensar da mesma maneira centralizada e privatista que
costumamos pensar, uma ou duas leis serão criadas para proibir a coleta de luz
do Sol, assim como a coleta de água da chuva enfrenta problemas.
É possível que no futuro o Sol esteja assim: aprisionado em poucas mãos. Fonte: Olhares |
No mais, todos estes problemas são apenas possíveis
conseqüências do que pode se transformar nossa sociedade do futuro. Pode ser
que no melhor dos mundos nada disso aconteça e as pessoas continuem a poder
gerar suas pequenas fontes de calor em casa, mas enquanto o futuro não vem, o que mais me espanta é que
estamos próximos de uma grande mudança de paradigma sobre como vemos o planeta e pouco está sendo discutido sobre a questão. Afinal, finalmente podemos ver o
planeta como um companheiro e não como um escravo. Nisto eu acho estranho que
ninguém ainda tenha colocado em voga o tema sobre a descentralização da
produção de energia.
Estamos próximos de uma grande mudança de paradigma sobre como vemos nossa relação com o planeta, mas temos que saber aproveitar a oportunidade para não cairmos em armadilhas. Fonte: Sustenta-habilidade |
Vejam bem, se a luz do Sol está disponível na maioria dos países,
mais vento, mais lixo orgânico, por que não desenvolver pequenas geradoras
mistas, contendo diferentes tipos de fonte de energia, em cada casa? Se os
dilemas tecnológicos forem resolvidos, por que não instalar placas solares nas
casas, biodigestores, que usam o metano produzido da queima do lixo orgânico, e
outras pequenas engenhocas que produzam energia suficiente para cada família?
Alguns dirão que é impensável e caro, mas eu digo que
incentivos governamentais (o imposto que pagamos) poderiam gerar os bilhões
para implantar e ainda conscientizar famílias inteiras sobre os ciclos do
meio-ambiente. Além disso, é extremamente não estratégico concentrar o poder de
produção de energia em algumas poucas mãos, até porque nossa sociedade caminha
cada vez mais para uma crescente necessidade de uso de energia. Com a
descentralização do poder de produção energético poderíamos resolver os
problemas de apagões e também acabaríamos com a necessidade de cobranças de
energia elétrica, afinal a luz do sol e o vento não têm donos (ainda). Ademais,
as pessoas tornar-se-ião menos alienadas sobre algo tão importante quanto a
energia, que praticamente rege e regerá suas vidas.
Enquanto preferimos não olhar, mais e mais recursos naturais estão sofrendo patenteamento. Fonte: GilbertoMirandaJr |
Acredito que estamos vivendo um verdadeiro desafio dentro do
setor de energia limpa e este não se refere a um problema tecnológico. Antes disso,
existe um problema político mais implícito que precisa ser resolvido por todos,
antes que mais uma vez tornemos as sociedades futuras escravas de algumas
famílias. Nós podemos mudar o futuro ao aceitar que nós mesmos podemos produzir
nossa própria energia em nossas casas. Com fontes mistas, problemas climáticos poderiam ser facilmente controlados pela substituição de uma fonte por outra;
com a descentralização podemos levar energia para locais extremamente afastados
e torná-los independentes da sociedade, caso desejem assim. Ademais, podemos
evitar um colapso de nossa sociedade, dado por uma possível guerra, ou por uma catástrofe natural que venha a
destruir algumas centrais energéticas.
Quando você olhar para o céu, para o Sol e sentir o vento, talvez você entenda que patentes são apenas ilusões e que só acreditamos em propriedades privadas porque queremos. Fonte: MidiaSpot |
Não nos coloquemos mais algemas para depender de mais um
recurso natural que deveria ser, na realidade, de todos. Vamos voltar ao
passado e lembrar que a propriedade privada é apenas uma ilusão que foram nos
ensinando aos poucos como algo natural. Atualmente, uma mulher nos EUA
patenteou algumas estrelas e inclusive o Sol. Como chegamos a isso? Como
chegamos a um mundo em que o egoísmo humano prefira matar milhões apenas para
ganhar mais e mais papel impresso?
Vamos mudar isso agora! Para que a luz do Sol não se torne
mais uma propriedade privada e para que ela continue a ser de todos e para
qualquer geração humana futura.
Paz!
Texto: Camila do Arco-Íris
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