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Ocupar Para Construir – O Futuro Da Humanidade Começa Nos Terrenos Baldios


Uma revolução não-violenta está se sucedendo. As pessoas resolveram
ocupar terrenos baldios ou canteiros e plantar hortas para toda a comunidade.
Na foto: Praça do Ciclista, São Paulo. Fonte: Sementeira
Existem muitos terrenos abandonados pela grande São Paulo e Brasil afora. Terrenos que chegam a ficar décadas sem construção e que esperam apenas a sua valorização pela especulação imobiliária. Alguns destes terrenos possuem muros ou grades, mas existe uma grande parte também que vive à revelia, criando mato e local propício para crimes. Alguns destes terrenos criam a esperança de muitos moradores sem teto, mas estes logo são expulsos pela especulação, e lá, continuam vazios os espaços que poderiam gerar vida. Além destes locais há ainda canteiros da prefeitura totalmente desocupados. Aqui em minha cidade há um estádio inteiro semi-acabado que está abandonado há mais de quinze anos. 

Na Europa é cada vez mais comum que jovens ocupem espaços baldios e
criem comunidades públicas, com hortas comunitárias e serviços.
Fonte: Gemeinsschaftsgarten Allmende-Kontor
Uma pequena grade o cerca, mas ninguém tem interesse nele. Às vezes, a impressão é que as grades freiam a vontade de vivenciar das pessoas, mas mesmo nos locais públicos que funcionam, as pessoas não tentam usufruir do local e até se incomodam quando alguém resolve tomar ma sombra debaixo de uma árvore. Parar e admirar está terminantemente proibido nas mentes da população.
Na Alemanha tudo acontecia como o previsto, até que um grupo de amigos resolveu começar a ocupar terrenos baldios da prefeitura para plantar e usufruir. Eles resolveram apelidar os locais de “apêndices de quintal” e levaram suas mesinhas, cadeiras e outros apetrechos de jardim para colorir o quintal comunitário. A ocupação ainda parece não ter incomodado os soberanos e hortas já estão sendo desenvolvidas pelo grupo que se torna cada vez maior. Ela é chamada de Gemeinschaftsgarten Allmende-Kontor, ou horta comunitária Kontor.

Em Tod Morden a população planta hortas no espaço público que podem ser
usufruídas por todos, sem cobrança. Fonte: Landshare
Aqui no Brasil, também, as pessoas estão tomando consciência, a cada dia que passa, de que existem outras possibilidades de administração do espaço. Primeiramente, a antiga noção de que o espaço público é responsabilidade do governo, a quem pagamos para cuidar, está caindo por terra, quando os próprios cidadãos decidem organizar o espaço e criar atividades de conscientização e produção de alimentos nos terrenos baldios. Isso é uma novidade de pensamento que tem sua origem nas concepções libertárias de que o governo não deve ser terceirizado, como fazemos atualmente, mas tomado como responsabilidade de toda a comunidade. De fato, eu não sei até que ponto o crescimento de jovens aderindo aos princípios de auto-gestão vão causar grandes modificações futuras no modo de pensar da população e, consequentemente, no próprio governo. É possível que o governo como o conhecemos hoje torne-se apenas um passado distante, em um futuro em que todos aprenderão a ser responsáveis pela comunidade, extinguindo para sempre a ideia de eleição de uma liderança que governe por todos nós. Mas vamos torcer para tal! Ainda são poucos aqueles que começam a questionar a a forma de governo atual, mas este número está aumentando!

Homem lê em terreno baldio ocupado na Alemanha. Na foto plantas
comestíveis e caixotes foram montados para desenvolver o jardim
comunitário. Fonte: Gemeinsschaftsgarten Allmende-Kontor
Além desta questão, as hortas comunitárias ainda põem em discussão a ideia de produção e venda privatizada de alimentos e outros produtos essenciais. Nas hortas, a produção é de todos e a terra também. Os alimentos são divididos entre toda a comunidade e ninguém fica com mais ou menos do que a sua necessidade. Este novo tipo de pensamento é outra revolução, pois é quase uma visão prática pura do comunismo utópico, em que não há propriedade privada dos meios de produção, nem pelo Estado.

A ação direta está crescendo como forma de protestar e mudar a
comunidade, sem que se espere respostas infrutíferas do governo
terceirizado. Fonte: Indymedia
O que acho mais incrível dos exemplos que começam a acontecer na Alemanha, como o Allmende-Kontor, ou com outros exemplos como a inglesa Tod Morden, e mesmo muitas outras iniciativas no Brasil, com grupos se organizando para plantar em canteiros públicos, é a modificação de pensamento. As pessoas já não estão mais terceirizando a responsabilidade de ser cidadãos e nem mesmo perpetuam a ideia de poder hierárquico ou de propriedade privada. Claro que ainda é minoria este tipo de pensamento, mas ele começou a crescer e se expandir a ponto que começamos a ouvir falar mais e mais destas iniciativas por todo o mundo.

O futuro da humanidade é incerto, mas os novos movimentos sociais de
ação direta aumentam a esperança de que poderemos começar de novo.
Fonte: Liberte-se do sistema
Não sei o que vai acontecer no futuro! Me parece incerta a posteridade da humanidade, sabendo de tanta maldade e tantas guerras por vir, mas ao mesmo tempo sinto esperança quando vejo jovens de 5 a 80 anos, saindo às ruas, não mais com a mera ideia de manifestar-se, pedindo aos governantes algum tipo de benefício. Agora, estes grupos simplesmente começam a se auto-governar! Eles criam comunidades imensas, ocupam canteiros e terrenos baldios, plantam árvores frutíferas pela cidade e começam a desenhar e a modificar a paisagem, em parte como forma de protesto, mas também demonstrando claramente que alguma coisa os acordou do marasmo. Um exemplo interessante é a faixa de pedestre desenhada na rua Alvarenga, no bairro Butantã da Grande São Paulo, onde manifestantes, ao invés de pedir aos governantes, resolveram eles mesmos desenhar a faixa.

Uma nova esperança poderá acordar quem está dormindo. Por um mundo
melhor. Fonte: Blog da máfia
Eu acredito que a maioria das pessoas está apenas dormindo. Uma parte acordou e a outra quer destruir. Por isso, é importante lembrar sempre do que está acontecendo de novo na sociedade! O mais importante é que as pessoas mudem a si mesmas, porque depois que mudarem, suas ações mudam também! O modo de governo terceirizado não faz com que as pessoas enxerguem que elas também são corruptas. Elas reclamam dos governantes, sem perceber a corrupção em si. Além disso, somos maioria! Se as pessoas acordarem e resolverem pôr a mão na massa, não há realmente como barrar a mudança. É por conta dos que estão dormindo que aqueles que tentam mudar, ficam tão enfraquecidos perante uma minoria que quer continuar depredando o planeta e nossa humanidade. Precisamos começar a sonhar ao contrário! Quem sabe um dia não acordemos e juntos mudemos o mundo com estas comunidades?

Vídeo sobre ocupação do espaço público em São Paulo


Paz!

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Autora: Camila Arvoredo


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