O Que Um Vegano Come?
Não só de alface vive a mulher e o homem! Já dizia a sabedoria vegan. Fonte: LoveFood |
O cardápio de um vegano constitui-se, no imaginário popular,
de várias refeições consecutivas de alface. Infelizmente, isto é um retrato da
nossa falta de conhecimento sobre a diversidade de alimentos que existem no
mundo e principalmente de seus constituintes em proteínas, minerais,
carboidratos, lipídeos e vitaminas.
Esta falta de conhecimento leva o brasileiro a comer quase
sempre a mesma composição nutricional, o que o leva a ter doenças que não
precisaria ter, como excesso de resfriados e infecções durante o ano. Para a
maioria, é até um hábito estar doente umas cinco vezes ao ano, sendo que isto
não é o normal e nem faz parte da vida de um vegano.
A alimentação brasileira está cada vez mais desequilibrada e o veganismo é considerado uma opção saudável e ética. Fonte: Ahau |
Mas se a alimentação do brasileiro médio está tão
desbalanceada, como a alimentação vegana poderia ajudar, já que ela parece ser
ainda mais pobre do que a nutrição comum? Bem, em primeiro lugar, o cardápio
vegano não é mais pobre, mas mais ricos em nutrientes; em segundo lugar, o
conhecimento nutricional que um vegano deve possuir para se alimentar
corretamente, faz com que seu cardápio varie ainda mais e torne-se ainda mais
saudável.
Assim, para começar a entender melhor sobre a alimentação
vegana é preciso, primeiramente, conhecer bem a bioquímica dos alimentos, que
apesar do nome complicado é muito mais simples do que parece.
O que vale para o organismo são os aminoácidos e não sua fonte, sendo assim, o organismo os absorve igualmente se são provindos de vegetais ou animais. Na foto, a reposição de todos os aminoácidos essenciais é feita pela combinação do arroz integral com uma leguminosa. Fonte: Crentinho |
Para o ser humano é importante obter alguns grupos químicos
dos alimentos, como carboidratos, lipídeos, proteínas, vitaminas e sais
minerais. Os carboidratos ou açúcares são digeridos pelo organismo e absorvidos
para o sangue na forma de monossacarídeos, os quais poderão ser usados para
gerar energia; os lipídeos são os óleos e gorduras e são digeridos para formar
os ácidos graxos; as proteínas são estruturas complexas que quando digeridas
são transformadas em aminoácidos, sendo alguns destes aminoácidos não
produzidos pelo organismo, devendo ser obtidos obrigatoriamente através da
alimentação; já sais minerais e vitaminas, por fim, estão presentes nos
alimentos em sua forma original e não precisam ser digeridos pelo organismo.
O que vale é que nossa fisiologia não entende o alimento
como uma proteína, um lipídeo ou um carboidrato, mas só “enxerga” o seu produto
digerido, como os monossacarídeos e aminoácidos. Desta maneira, tanto faz para
nosso corpo a origem da proteína ou sua estrutura final, pois o que importa são
os aminoácidos ou outro componente que esta proteína gerará.
Não basta cortar carne e derivados para virar vegano; é preciso se reeducar e estudar. Fonte: Mercadolivre |
Esta informação é muito importante, pois mesmo
nutricionistas às vezes afirmam que a origem de um alimento é essencial para um
organismo e que as proteínas provindas de determinado tipo, como a carne, por
exemplo, são melhores que proteínas obtidas de outro tipo, como vegetais. De
fato, isto é um mito e falta de conhecimento e é, felizmente, um dos principais
argumentos errôneos usados pelas pessoas que afirmam ser obrigatório o consumo
de carne.
Mas o que a carne tem a ver com isso? Bem, para nosso
organismo não importa a origem das proteínas e nem mesmo sua estrutura final em
forma de músculo (carne) ou vegetal; o mais importante são os aminoácidos que a
digestão desta carne gera. A proteína da carne possui todos os aminoácidos
essenciais para o organismo, mas alimentos de origem vegetal também geram os
aminoácidos essenciais para nossa fisiologia. De fato, a diferença é que a
maioria dos vegetais não fornece todos os aminoácidos essenciais, o que gera a
necessidade de combinar este alimento com outro tipo e que libere os
aminoácidos essenciais faltantes.
Se vivêssemos em uma sociedade vegetariana ou se aprendêssemos a nos alimentar corretamente na escola, a dieta vegana seria considerada extremamente simples. Fonte: Adital |
Com este conhecimento já começa a ficar claro, então, o
porquê do conhecimento nutricional ser tão importante para um vegano, pois este
deve conhecer bem a combinação de alimentos que deve fazer para completar todos
os aminoácidos essenciais.
Além disso, o vegano deve conhecer alimentos que contenham
vitaminas, como a D e B12 ou minerais como o Cálcio, que as pessoas acham ser
mais facilmente encontrados em alimentos de origem animal. No fundo, a bola de
neve vem da cultura, que ensina a criança a obter estes minerais, vitaminas e
proteínas de fontes carnívoras, quando poderia obtê-las de fontes vegetais, se
tivesse aprendido a se alimentar melhor desde a infância.
O veganismo é um desafio de aprendizado nutricional e que pode salvar sua saúde, o meio-ambiente e muitas vidas animais. Na foto: Onde vocês conseguem suas proteínas? Fonte: HopeScotchTheGlobe |
Assim, a dieta vegana seria como uma dieta normal se
tivéssemos nascido em uma cultura vegetariana, mas passa a ser um bicho de sete
cabeças em uma sociedade carnívora que não sabe se alimentar e mal conhece a
natureza dos alimentos que ingere. Precisamos, então, nos reeducar e aprender
mais sobre nossos hábitos, afinal, está cada vez mais comprovado que a dieta
carnívora é prejudicial para a saúde, ambiente e para os animais.
Como temos que nos reeducar, à primeira vista, é mais
complicado ser vegano, mas não na realidade: o brasileiro médio come mal
justamente por não conhecer o que come. Além disso, as refeições estão sendo
comumente substituídas por lanches rápidos e alimentos industrializados, quando
não é simplesmente substituída por uma massa e um molho pronto com carne.
Veganos comem uma variedade impressionante de alimentos e alguns nem gostam de alface. Fonte: Vista-se |
A conclusão é que continuar na zona de conforto é perigoso,
pois é preciso entender o que se come, afinal nós somos o que comemos! Alimentar-se
sem entender, só nos leva a prejudicar nosso organismo e o meio-ambiente, além
de nos fazer ser escravos dos sentidos, mesmo que isso tire a vida de animais
que não precisariam morrer.
Mas depois de tanta explicação e já sabendo que a natureza
dos alimentos pouco interessa para o organismo, senão a sua composição química,
está na hora de saber o que um vegano come e se é possível, de fato, ser um
vegano saudável.
Cogumelos são ótimas fontes de proteína e vitamina D. Fonte: Dreamstime |
Para complementar os carboidratos o vegano deve comer
alimentos que contenham amido ou carboidratos mais simples, sendo estes a
mandioca, a batata, o inhame, cará. Outros alimentos são: arroz integral, trigo
integral e alimentos feitos de sua base, como macarrão ou bifum e aveia; para
complementar os aminoácidos essenciais, o vegano pode combinar uma leguminosa
com um cereal integral, como feijão ou grão de bico ou lentilha e arroz
integral. Outras fontes que contêm os aminoácidos essenciais em cereais são
quinoa ou amaranto. Já a soja e seus derivados, como tofu, cogumelos e a ora
pronobis (veja post sobre alimentos não convencionais) possuem todos os
aminoácidos essenciais.
O excesso de cálcio na dieta ocidental começa a ser associado a epidemia de osteoporose. Fonte: VeganInfinity |
Para complementar lipídeos o vegano se alimenta de gorduras
menos danosas à saúde, do que a gordura animal, como óleos de oliva, dendê e
coco. As manteigas podem ser substituídas por manteiga de azeite ou óleo de
coco ou por patês, quando é o caso. Por fim, com a quantidade elevada de salada
que um vegano come, as vitaminas e os sais minerais são praticamente repostos,
sobrando apenas a dúvida a respeito do cálcio, da vitamina D e da B12.
No caso do cálcio, muitos artigos científicos já relacionam
a sua reposição excessiva, pelos laticínios à osteoporose (ver artigo sobre veganismo e leite). Assim, não há o que temer quanto ao corte de laticínios da dieta. Por
outro lado, este elemento continua sendo de vital importância, o qual pode ser
substituído por gergelim e folhas verde escuras. No caso da vitamina D, esta
pode ser obtida por banhos de sol de 15 minutos por dia. Caso viva em país frio
ou não possa tomar muitos banhos de sol, recomenda-se a ingestão de cogumelos
frescos, como cogumelos paris, shitake, shimeji e porto belo. Por fim, a B12 é
a única que não pode ser reposta por alimentos vegetais, porém ela pode ser
complementada por suplementos veganos.
Os maus-tratos a que sofrem os animais geram a necessidade de mais antibióticos e hormônios, para esconder suas doenças. Fontes: Octopedia |
É preciso outro artigo para explicar o porquê da B12 não ser
um contra-argumento para a dieta vegana, mas por enquanto deixo apenas a
informação de que toda B12 é de origem bacteriana, mesmo a que vem das fontes
animais, e que esta pode ser obtida diretamente da fonte, pelo cultivo destas
bactérias (os suplementos veganos).
Claro que todos estes elementos também devem estar presentes
em uma dieta carnívora, mas a diferença é que a carne, contendo todos os
aminoácidos essenciais, tiraria a necessidade de se reinventar, o que torna
esta dieta mais cômoda do ponto de vista cultural e nutricional.
Repensar a alimentação é também salvar vidas e desenvolver a compaixão dentro de nós. Fonte: Depoisdos25 |
Um porém
apenas é que a dieta carnívora, apesar do comodismo, contém excesso de
substâncias tóxicas que a carne contém e excesso de gordura saturada. Além
disso, há concentração de hormônios e antibióticos, devido aos maus-tratos que
os animais sofrem. Por fim, vale lembrar que a chance de se desenvolver
verminoses é maior no consumo da carne, principalmente a carne de porco que
pode inclusive matar, ao transmitir cisticercose.
Se você ainda não se importou com todos os riscos, por
considerar que é mais fácil ser carnívoro, lembre-se que é preciso esforço da
mesma maneira para adequar sua dieta para uma que seja mais saudável do que a
habitual, afinal não somos educados a nos alimentar bem.
Um simples hábito, quando feito por muitos, pode mudar toda a lógica de opressão do mais forte do sistema atual. Fonte: CasaMay |
Sendo assim, o custo
de tempo para entender sobre nutrição, não pode ser usado como argumento contra
o veganismo. Evidentemente que o conhecimento nutricional deveria ser matéria
obrigatória nas escolas, mas isto não acontece. Desta maneira, todos devem
tentar entender a natureza do que estão comendo, tanto carnívoros como veganos.
Por fim, eu ainda considero o argumento de que o veganismo mata menos
indivíduos.
Repensar a dieta vai além da dieta. Fonte: Veganolo |
É muito comum ouvir pessoas dizendo que veganos não têm compaixão
por plantas, pois as matamos, mas considerando que não matamos animais e que
carnívoros também matam plantas, é questão de matemática assumir que a dieta
vegana é mais ética por necessitar de menos matança. Ademais, o cultivo de
vegetais é menos danoso ao ambiente, do que a produção de animais e se você
acha que a soja está desmatando a Amazônia, saiba que esta mesma soja está
sendo produzida para gerar ração para animais que a população comerá depois.
A escolha é de cada um! Cada vez mais se faz necessário se
repensar e se recriar como a fênix. Acredito que a maior revolução está por vir
e será aquela em que as próprias pessoas decidirão mudar-se e melhorar-se,
gerando assim uma sociedade menos violenta e mais responsável, não porque um
melhor governo foi eleito, mas porque a própria humanidade estará mais livre da
ignorância.
Para todos aqueles que
tentaram o veganismo ou vegetarianismo e hoje dizem ser impossível por terem
ficado doentes, perguntem-se até que ponto a dieta vege-vegana de vocês não foi
feita sem conhecimento anterior, sendo substituída por comida artificial ou por
um cardápio desequilibrado. A dieta vegana é perfeitamente possível, desde que
feita com consciência e paciência para reaprender a se alimentar. Ao fazer
isto, estaremos um passo mais próximo da liberdade, pois passaremos a nos
alimentar conscientemente e não mais baseados na ignorância.
Paz!
Autora: Camila Arvoredo
Autora: Camila Arvoredo
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