Kano Suga –Anarquismo Contra o Machismo no Japão
Por: Camila do Arco-Íris
Kano Suga, referência no anarquismo japonês; contra o machismo de sua sociedade. Na foto: "Para nós mulheres, a tarefa mais urgente é desenvolver nosso próprio auto-reconhecimento." Fonte: TheStandarton |
Aqui no “História ao Contrário” já mostramos muitos exemplos
de ocidentais e mulheres indianas na luta contra a opressão de gênero ou pelo
direito de livre expressão artística, científica ou política das mulheres.
Apesar disso, falta-nos uma noção sobre as mulheres desconhecidas de outras
partes do mundo, as quais não costumam nem ser aprendidas nas escolas, mesmo
quando se tratam de feitos masculinos.
Essa ausência, que poderia ser completada apenas por algumas
lições em poucas horas, criam um vazio imenso na nossa visão de mundo, fazendo
com que a maioria das pessoas praticamente não pense no pensamento de um Japão
e de uma África.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o Japão parece que passou
a existir aos olhos dos Ocidentais, ou pelo menos de quem estuda história no
Ensino Médio, porém, antes, grandes feitos foram realizados e muitos fatos, às
vezes inimagináveis, aconteceram na cultura deste país.
O Japão, muito ligado a religião teve uma opressão de gênero
muito peculiar, tendo a mulher um status equivalente ao de um animal de
criação. Não foi só o Japão, mas outros países orientais, como a China, a
tratarem a mulher assim, mas é fato que esta ausência da vida pública e o tráfego
sexual para educação de gueixas tornou a mulher japonesa um dos seres humanos
mais oprimidos do mundo antes do século XX. Isso fez com que quase fosse
inexistente a mulher artista, política ou cientista no Japão, o que não evitou
com que algumas mulheres se manifestassem contra isso.
A provável única foto conhecida da ativista Kano Suga. Fonte: Core |
Uma dessas mulheres foi Kano Suga, que viveu no final do
século XIX até início do século XX. Kano foi estuprada aos quinze anos, por um
mineiro amigo de seu pai. Foi sua madrasta que planejou o crime, a qual
costumava agredi-la comumente em casa. Além da violência cometida no estupro,
Kano cresceu com a revolta ao ser culpada pela sociedade e ver seu estuprador
ser considerado inocente. Mais tarde, aproximou-se do socialismo, ao ler um
panfleto sobre mulheres que sofreram abusos sexuais. Casou-se para fugir dos
maus-tratos e fugiu de seu marido para tentar uma vida independente. Mais
tarde, Kano, sem ter educação formal e sem direito a trabalhar por ser mulher,
conheceu Udagawa Bunkai, o qual resolveu ensiná-la a ler e escrever e dar-lhe
assistência econômica em troca de favores sexuais, única moeda de troca das
mulheres desta época. Começou a escrever em um jornal, envolvendo-se com o
movimento feminino cristão, escrevendo principalmente contra o sistema de
bordéis legalizados. Envolveu-se mais tarde com um manifesto anarquista e
criou, junto com Shushui Kotoku, um jornal de tendências libertárias. Sendo
presa pro conta do jornal e sendo acusada de participar do complô que visaria o
assassinato do imperador, Kano foi executada em 24 de janeiro de 1911.
Infelizmente até hoje muitas mulheres, como Kano, são condenadas por terem sido estupradas, enquanto os estupradores são libertados pela justiça. Fonte: SweetRockn'roll |
Foi no anarquismo e no socialismo cristão que Kano conseguiu
obter apoio contra a opressão machista da mulher de sua época. Por sua luta,
Kano ficou conhecida na história política japonesa e foi a primeira mulher a
ser executada no Japão com status de prisioneira política. Mesmo com todas as
dificuldades, Kano foi à luta e resolveu brigar por um mundo melhor, mundo este
que não seria injusto com as mulheres como fora injusto quando foi estuprada.
Me surpreendem as piadinhas machistas ou dizeres populares
afirmando que a mulher é interesseira, buscando sempre a carteira do homem ou
algum favor sexual. Kano teve que trocar estes favores para obter educação e
sustentos, a qual não teve direito por ter nascido fêmea. Que venham as críticas
a estas mulheres ou a todas! Vamos ignorá-las!
Todo o trabalho que a sociedade faz para oprimir a mulher resulta na extinção de seus direitos, de modo que sua única moeda de troca passe a ser o favor sexual. Fonte: Subvertidas |
As pessoas adoram criticar os outros e falar com maldade,
principalmente contra grupos oprimidos na sociedade. Para muitas mulheres ainda
não existe o direito de trabalhar e nem de estudar. O simples direito de comer
só pode ser obtido quando ela se casa e troca favores sexuais com o marido, o
qual decide se compra ou não roupa e alimento para a mulher, dependendo do seu
desempenho como esposa submissa. Infelizmente ainda vivemos em um mundo em que
milhões de mulheres trocam todos os dias favores sexuais, mesmo que seja sob
regime de casamento, para comer.
Aos críticos, peço apenas que antes de falarem deveriam
observar, pois o mundo não dá chances iguais a todos no nascimento. Espero que
um dia a luta de Kano Suga seja honrada e que finalmente as mulheres não sejam
julgadas por serem estupradas, ou não tenham a necessidade de se casar ou
trocar favores para poder estudar ou comer.
Este mundo está chegando? Espero que sim! Talvez um dia, ser
uma mulher livre já não seja ofensivo, passando despercebido, assim como é para
o homem comum que anda nas ruas despreocupado e invisível.
Ajude o blog a crescer e seja um seguidor!
Projeto "HISTÓRIA AO CONTRÁRIO", clique aqui para saber mais!
Labels
MUNDO POSITIVO
Post A Comment
Nenhum comentário :