O Veganismo É Um Radicalismo?
Por: Camila Arvoredo
Bem, se você comer errado, você vai ficar doente, em
qualquer dieta! Se você quer mudar, será preciso ler, estudar, abrir-se para
novos alimentos, como soja negra, tofu, ora pro nobis, castanhas, quinua como
fonte de proteínas; leites de amêndoa e gergelim, como fonte de cálcio,
espinafre, couve, brócolis, como fonte de ferro, enfim há uma infinidade de
vegetais que desconhecemos por comermos mal e sem variedade!
CROWE, F. L.; STEUR, M;
ALLEN, N. E.; APPLEBY, P. N.; TRAVIS, R. C.; KEY, T. J (2011). Plasma concentrations of 25-hydroxyvitamin D in meat
eaters, fish eaters, vegetarians and vegans: results from the EPIC–Oxford
study. Public
Health Nutrition, 14(2), 340-46;
GRANT, J. D. Food
for thought and health (2012). Canadian Family Physician. 58, 917-19;
DYETT, P. A.; SABATÉ, J.; HADDAD, E.; RAJARAM, S.;
SHAVILIK, D. (2013)Vegan Lifestyle Behaviors. An exploration of
congruence with health-related beliefs and assessed health incides. Apettite,
67(1), 119-24;
TANTAMANGO-BARTLEY, Y.; JACELDO-SIEGL, K; FAN, J. (2013) Vegetarian Diets
and the incidence of cancer low-risk population, Cancer
Epidemiology, Biomarkers & Prevention, 22(2), 286-94;
Radical: algo que vai além dos limites do suportável. Será que o veganismo é apenas fruto de lunáticos radicais? Fonte: HackneyCitizen |
Não é só quem come carne que pensa comumente que veganos são
pessoas radicais e totalmente desconectadas da realidade. De fato, é muito
comum encontrar lacto-ovo vegetarianos que pensam assim também, o que os faz,
inclusive, não optar pelo veganismo.
Este pensamento vem às vezes do fato de que veganos vão
muito além da negação da carne como opção alimentar, deixando de comer qualquer
produto de origem animal, como queijos, leite e ovos e boicotando, igualmente,
produtos que tenham sido feitos de algum componente animal, como couro, lã,
produtos de limpeza e cosméticos com glicerina animal, alguns plásticos e toda
a enorme gama de produtos – quando conseguem – que possuem animais em sua
constituição.
Ao contrário do que a maioria crê, a dieta vegana é a mais saudável de todas, se bem planejada. Fonte: Jornalismo Ponto net |
Tais ações parecem ser o extremo de um indivíduo que, além
de não conseguir boicotar tudo – pois quase tudo tem animal – ainda danifica
sua própria saúde, que dirá de seus filhos.
Tristemente, este é o pensamento mais popular sobre o
veganismo: algo radical e fora de contexto, entretanto, e para a felicidade dos
animais, tudo não passa de preconceito e informações errôneas, capturadas de
mídias ignorantes sobre os fatos científicos a respeito do veganismo.
Você sabia, por exemplo, que veganos têm menor chance de
desenvolver qualquer tipo de câncer, até mais do que lacto-ovo-vegetarianos
(Tantamango-Bartley et al., 2012)? Você sabia que dietas veganas são possíveis
para crianças e que crianças veganas costumam ser mais saudáveis, com menor
risco de obesidade, desde que sob dieta regulada, evidentemente1?
Uma das mentiras mais bem arquitetadas do século, o leite aparece como prevenção, enquanto está levando a osteoporose! Fonte: Liberte sua mente |
São muitos fatos que não sabemos e mais interessante ainda é
o preconceito relacionado ao leite de vaca. A publicidade parece que tenta
forçar a falsa suposição de que precisamos de leite de vaca para obter cálcio e
que se não o tomarmos – principalmente mulheres de meia idade – se corre o
risco de desenvolver osteoporose. Como toda publicidade de toda empresa que
quer lucrar em detrimento dos outros, tudo isso é pura mentira! Em primeiro
lugar, existe uma série de alimentos vegetais ricos em cálcio, como gergelim e
castanhas, mas mais importante do que isso é o fato de que a ingestão excessiva
de leite leva a perda de cálcio em massa pelos rins, ou seja, beber uma
substância repleta de cálcio e proteínas, todos os dias, em vários horários,
como achocolatado, queijos, creme de leite, sorvete e outros, não faz com que
você ganhe cálcio, mas o perca!
Segundo Grant (2012) comer menos proteína e cálcio, como
fazem os veganos, não é ruim, mas ótimo para a saúde! De acordo com o autor, a
alta ingestão de proteínas, através do leite e da carne, aumentam o risco de
osteoporose e segundo Weikert et al. (2005), há uma maior incidência de fratura
de bacia e pulso em mulheres idosas sob dietas com alta ingestão de leite.
Tomar Sol é a principal fonte de vitamina D, a qual pode ser encontrada também em cogumelos. Fonte: Vou mochilando. |
Eu citei artigos científicos para apontar que o veganismo
não é só possibilidade de cabeças fantasiosas, mas é possível sob base
científica. Mais, ele é mais saudável, pois diminui o risco de obesidade,
diabetes, hipertensão, câncer e osteoporose. Claro que o veganismo deve ser
feito sob a base de uma dieta bem programada. Por exemplo, Dyett et al. (2013)
notam que veganos costumam ter deficiência em vitamina D2 e B12 e
excesso de sódio. É importante, em qualquer dieta, de saber o que se está
comendo e se algum elemento está faltando. A dieta vegana, por não conter nada
de origem animal, não contém vitamina B12, a qual pode ser ingerida por suplementos
de origem bacteriana3. A vitamina D pode ser obtida por banhos de
Sol e o sódio, bem, este deve ser controlado, principalmente pelos veganos que
ingerem excesso de fast food vegan.
Tomar leite significa apoiar a indústria de produção de bife de bebê dos bebês machos que não darão leite. Fonte: Serveg |
Até aqui eu falei da possibilidade de se tornar vegano do
ponto de vista da saúde. Vocês já viram que o veganismo não é um radicalismo
neste ponto de vista e que a dieta não prejudica, mas ajuda ao organismo humano.
Depois disso, eu gostaria de falar sobre um ponto mais delicado: o bem-estar
animal.
Neste ponto o veganismo também não é um radicalismo! Muitos
dizem que apenas parar de comer carne já é o suficiente para os animais e para
o planeta, mas saibam que não é, o que pode ser surpreendente para alguns!
Saibam, por exemplo, que mesmo se você deixar de comer carne, o leite que você
bebe provém de muitas vacas torturadas. Estas, depois da tortura, vão ser
mortas, quando não produzirem mais a quantidade de leite necessária para manter
o fluxo de caixa das empresas leiteiras. O mesmo ocorre com as galinhas, que
são mortas, quando não conseguem mais produzir ovos. Há ainda um ponto mais
alarmante relacionado ao queijo: mesmo sem comer carne, o queijo é uma carne. Você
sabia disso? O queijo, para ser produzido, precisa de uma enzima para coalhar, o
coalho, que só pode ser obtida do estômago do bezerro. Vacas bebês são
separadas para produzir leite, já bois bebês são mortos para produzir baby beef
e queijo! Aqui vocês já vêem como parar de comer carne não é o suficiente, pois
tudo está conectado: indústria leiteira, mais matadouro, mais queijo.
Um dos principais propósitos do desmatamento brasileiro é a produção de soja para produzir ração animal. Fonte: Envolverde |
Por fim, para terminar, muitas pessoas aderem ao estilo “vege”
para ajudar ao meio-ambiente! Ora, se eu continuo a apoiar a indústria leiteira
e de ovos, mesmo que não comendo carne, eu não estou do mesmo modo apoiando o
desmatamento na Amazônia e Cerrado para produzir soja para alimentar o gado,
porcos e aves? Pensem nisso!
O objetivo de meu texto, não é evangelizar os carnívoros e
lacto-ovo-vegetarianos. Mais importante, eu pensei em mostrar que a falsa ideia
do veganismo como um radicalismo não convém!
Toda dieta precisa de organização e conhecimento. Aprenda a ser vegano, aprendendo a se organizar e a se alimentar. Fonte: Alma de Golfinho. |
A partir daí, vocês podem optar
pela ação que lhes pareça melhor! Agora que vocês sabem que não precisam ter
medo de optar pelo veganismo, pois este não mata, mas cura, é preciso dizer que
é importante aprender a comer! Não vá virar vegano ou vegetariano sem a devida
organização! A nossa cultura não sabe se alimentar direito! Nós não sabemos que
ingredientes compõem nossos alimentos, quais possuem proteínas, vitaminas,
carboidratos! Nós só comemos aquilo que nos parece gostoso, sem saber que às
vezes estamos comendo câncer! Se você quer se tornar vegano e ajudar aos
animais e ao planeta, o lacto-ovo-vegetarianismo pode ser uma opção de
intermediação para ir se acostumando. Há pessoas que viram veganas de uma vez,
mas lembrem-se de seguir os seus instintos, pois muitas pessoas viram
vegetarianas ou veganas sem se organizar, comem muito mal e errado e depois
voltam a comer carne, tornando-se ávidos inimigos da dieta e sempre
argumentando: “Comer carne é necessário. Parei de comer e fiquei doente!”
A fênix é a metáfora de que devemos deixar morrer nosso passado ignorante para aflorar um renascimento de mais sabedoria. Fonte: Diário da Dunaz |
A fênix morre para renascer mais forte! Devemos morrer, às
vezes, e deixar nossos maus hábitos e nosso “eu” passado para trás! Morrer não
é fácil, mas essa luta nos trás força para renascermos mais conscientes e mais
responsáveis pelas nossas ações!
Paz!
Notas:
1 – Leia o artigo “Vegetarian
and Vegan Children” da NHS Choices, para saber mais sobre os cuidados de
dietas veganas em crianças. Disponível em: http://www.nhs.uk/conditions/pregnancy-and-baby/pages/vegetarian-vegan-children.aspx#close.
Acesso em: 28/05/2013;
2 – Crowe et al. (2011) notam que a deficiência, em relação
a carnívoros, só ocorre nos meses de inverno na Inglaterra quando não há
possibilidade de realizar banhos de sol. Nos meses de verão, a diferença é
mínima. Assim, deve-se atentar para os meses de inverno.
3 – Toda vitamina B12, mesmo a de origem animal provém, na
realidade, de atividade bacteriana. Suplementar não significa que a dieta vegana é não-natural. Veja mais sobre isso em entrevista com George Guimarães.
Referências
CROWE, F. L.; STEUR, M;
ALLEN, N. E.; APPLEBY, P. N.; TRAVIS, R. C.; KEY, T. J (2011). Plasma concentrations of 25-hydroxyvitamin D in meat
eaters, fish eaters, vegetarians and vegans: results from the EPIC–Oxford
study. Public
Health Nutrition, 14(2), 340-46;
GRANT, J. D. Food
for thought and health (2012). Canadian Family Physician. 58, 917-19;
DYETT, P. A.; SABATÉ, J.; HADDAD, E.; RAJARAM, S.;
SHAVILIK, D. (2013)Vegan Lifestyle Behaviors. An exploration of
congruence with health-related beliefs and assessed health incides. Apettite,
67(1), 119-24;
TANTAMANGO-BARTLEY, Y.; JACELDO-SIEGL, K; FAN, J. (2013) Vegetarian Diets
and the incidence of cancer low-risk population, Cancer
Epidemiology, Biomarkers & Prevention, 22(2), 286-94;
WEIKERT C, WALTER
D, HOFFMANN K, KROKE A, BERGMANN MM, BOEING H. (2005) The relationship between dietary
protein, calcium and bone health in women: results from the EPIC-Potsdam
cohort. Annals of Nutrition and
Metabolism;49(5):312-8.
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