Kisagotami – A Mulher Que não acreditava na morte
Por: Camila Arvoredo
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Kisagotami enfrentou a morte para conhecer a vida. Fonte: Chandawimala. |
No meio da opulência, Kisagotami tinha tudo que uma rainha
era digna: as melhores e mais caras jóias, vestidos fabulosos, uma casa
fantástica e uma série de criadas que cuidavam dela, massageando-a e penteando
seus cabelos. Kisagotami nascera em uma família muito rica e casara também com
um homem igualmente rico, mas ao engravidar, ela não supunha que aquela criança
mudaria seu destino para sempre!
Ao nascer, seu bebê era saudável e vivia bem, mas uma
terrível doença o assolou e nem os melhores médicos da cidade foram capazes de
curá-lo. Kisagotami entrou em desespero profundo e sem saída, levou o corpo de
seu filho, nos braços, pela cidade afora, em busca do único que poderia
salvá-lo, Buda Gautama. Chorando, com o filho falecido nos braços, ela se
aproximou do mestre e suplicou para que ele lhe retornasse a vida. Chorava e
suas lágrimas pesadas fizeram com que o mestre lhe propusesse uma solução: “bata
nas portas de cada casa do vilarejo e peça grãos de mostarda à pessoa que não
tiver conhecido nenhum familiar que já tenha morrido. Quando a encontrar e
receber os grãos de mostarda, traga-os para mim e eu darei a vida de volta a
seu filho.”
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Em desespero, Kisagotami foi em direção ao único que poderia ajudá-la a salvar seu filho. Fonte: Kaskus |
Kisagotami saiu desesperada a procura de alguém que nunca
tivesse conhecido ninguém que morrera. Andou até o anoitecer e se deu conta de
que a tarefa era impossível, pois todos já haviam passado pela experiência da
morte. Ela, então, percebeu que a morte era algo natural e que comumente
acontecia e vendo na tarefa a sabedoria do mestre, Kisagotami, dentro de alguns
meses, abandonou toda a sua riqueza e opulência e se juntou ao mestre Buda como
discípula. Mais tarde, ela foi considerada como uma das maiores mestras da
história do budismo, tendo alcançado o Nirvana.
A história de Kisagotami é bela por nos fazer refletir sobre
o papel da morte em nossas vidas e também sobre o desapego em relação àqueles
que partiram, mas além dessa importante reflexão, Kisagotami torna-se, imagino,
para muitos leitores como um exemplo de que o caminho pertence a quem o quiser
seguir, não importando o gênero, raça, opção sexual ou qualquer outro fator que
gere preconceito.
Esta é uma imagem religiosa comum em que apenas homens compartilham do caminho espiritual, porém ela é apenas resultado da visão patriarcal de nossa sociedade. Na realidade, muitas mulheres partilharam o caminho, sendo apenas apagadas da história. Fonte: Budsir |
Comumente nós estamos acostumados a encontrar mestres,
homens religiosos ou místicos. No Ocidente, os magos ou alquimistas são sempre
representados como homens e no Oriente, os Budas ou iluminados também assim o
são. Isso faz com que muitas mulheres não se sintam impelidas a seguir um
caminho em que não há nenhuma mulher representada. É muito mais difícil seguir um
caminho, quando não existem exemplos e muitas vezes, a falta de exemplos, nos
faz desistir inconscientemente por acharmos que aquele caminho não é para
pessoas com as nossas características. Claro que isso não é verdade, mas como
exemplos facilitam, é importante mostrar a todas as mulheres que elas também
podem seguir o caminho do nirvana, transformando-se no que elas quiserem!
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O exemplo de Kisagotami e muitas outras mulheres demonstram que a religião institucional, ocidental ou oriental, fundou-se mais em princípios patriarcais do que espirituais. Fonte: Bíbliaensina |
Existem muitas religiões que até postulam a possibilidade de
que mulheres sigam o caminho místico, porém elas colocam uma série de regras do
que para eles é considerado feminino: delicadeza, submissão, humildade,
passividade. De fato, nós não sabemos o que é ser feminino ou masculino, pois
como podemos ter tanta certeza do que é ser mulher ou homem se nem ao menos
conhecemos o que nós, como homem ou mulher, realmente somos?
O verdadeiro caminho é aquele do coração ou da intuição -
assim dizem os místicos - e desse modo seguir as regras dos outros para
encontrar a si mesmo é impossível, pois se está seguindo a realidade do outro e
não àquela de si mesmo.
No caso, espero que as mulheres possam usar dos exemplos que
aqui trarei em “História ao contrário” para encontrarem a si mesmas, mudarem a
si mesmas e transformarem o mundo em um lugar melhor. Para os homens também
deixo a oportunidade de refletirem sobre os conceitos do que é ser feminino e
masculino e como as regras que seguem podem transformar-se em uma prisão.
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Homem ou mulher, cada um deve seguir a si mesmo e deixar as imposições de lado. Fonte: sjamanistisk |
Kisagotami seguiu o caminho junto de Buda e seguiu seu
coração, não se importando com todos os olhares abismados daqueles que a viam
abandonar seu luxo e que a viam andar no meio de muitos homens e poucas
mulheres para conhecer a luz. Como ela, é importante que saibamos que qualquer
pessoa deste mundo que queira se melhorar será capaz, não importando seu sexo. Por
fim, vamos nos lembrar dos exemplos destas mulheres para refletir sobre a
religião que conhecemos e os ensinamentos que de fato existem. Muitos acreditam
que o caminho é feito de poder e corrupção, de preconceito e muito machismo e
elitismo, mas esse não é o caminho! O caminho foi escondido e o exemplo dessas
budas, que estamos colocando aqui, já mostram que há muito mais coisas entre o
céu e a terra do que crê nossa vã filosofia e nossos conceitos modernos!
Paz!
Projeto "HISTÓRIA AO CONTRÁRIO", clique aqui para saber mais!
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