O Retorno das Budas mulheres - quando a história começa a ser reescrita
As mulheres estão começando a reivindicar seu direito ao lado místico da humanidade. Fonte: MapaAstral |
A mulher, segundo a maioria das religiões é defeituosa. Ela
é simplesmente um projeto mal elaborado do homem. É por conta desta visão que
muitas mulheres, ou se subjugam a este conceito simplista e reacionário do
feminino ou abandonam qualquer tipo de reflexão sobre o divino. Porém, há agora
um terceiro grupo que começa a aflorar no mundo todo: as monjas, freiras e
grupos de misticismo feministas, não necessariamente ligados a uma religião
institucional. Claro que alguém poderia se perguntar qual a real importância disto para o
mundo, afinal a religião institucional, na maioria das vezes, mais oprime do
que auxilia e mesmo quando não tente fazê-lo carrega o ranço da crença
inquestionável, a qual não parece ter mais lugar na sociedade atual.
Em todas as religiões, a figura da mulher passou a nada ou a papeis secundários, quando na realidade, elas foram protagonistas da história. Na foto: Jesus e Maria Magdalena. Fonte: ProyjectoPV |
Mas esta visão está errada. Errada porque no mundo todo
existem mais pessoas religiosas do que pessoas agnósticas e ateias e porque a
religião ainda influencia a vida de bilhões de pessoas no mundo. Desta maneira,
negar a importância da religião no mundo seria apenas tentar ignorar todas as
pessoas que sofrem injustamente por conta de dogmas agressivos. Além disso, a
religião em si carrega uma filosofia muito rica, a qual pode nos ajudar a
entender as perguntas que outras áreas de conhecimento da humanidade - como a
ciência - não respondem sendo uma das questões mais importantes a natureza do
feminino.
Mais e mais mulheres começam a questionar as noções antigas do que é o feminino surgindo com uma visão renovadora do poder da mulher. Fonte: GrávidasEmForma |
O que é o feminino é uma pergunta que há somente pouco tempo
atrás começou a ganhar respostas. Isso porque até então era claro o que ele
representava. Assim, tudo o que é passivo, humilde, sensível e irracional é o
feminino e portanto a mulher. Desta maneira, qualquer tipo de mulher que pense
e reflita sobre as questões de nossa sociedade já não se enquadraria neste
perfil, o que fez com que muitas fossem mortas durante a Inquisição ou
sofressem algum tipo de mutilação ou agressão, para que se enquadrassem. Claro
que este conceito não é por acaso. Ele tem a função de manter a estrutura
familiar nuclear, a qual é uma das bases da sociedade hierárquica de dominação.
Eu não digo capitalismo, porque nem sempre houve uma estrutura capitalista em
nossa sociedade, mas em toda a história patriarcal da humanidade houve
hierarquia, a qual é sempre mantida pela força, seja física ou psíquica.
Claro que tudo isso nós já sabemos: a mulher deve obedecer ao
marido e cuidar das funções do lar e dos filhos, o homem deve também seguir um
modelo de masculino e suprir a família; como ele tem mais liberdade e controla
os recursos, ele acaba por adquirir mais poder e ensina-se às futuras gerações
sobre a estrutura de força bruta e de hierarquia, a qual se perpetua até os
dias atuais.
Dakini ou o sagrado feminino foi repudiado ou transformado em secundário no Oriente, mas está ganhando novo reconhecimento nos dias atuais, graças ao trabalho de muitas monjas. Fonte: Pinterest. |
Apesar disso, muitas mulheres começam a se questionar sobre
esta estrutura e não só sobre questões de poder na sociedade, mas sobre o
próprio conceito do que é ser mulher. Dentro disso, a própria religião começa a
se transformar e não é apenas por conta de uma nova visão a respeito das
escrituras ou dos ensinamentos passados, mas pelo simples fato de que novas
pesquisas começam a mostrar que a história das religiões foi muito mal contada
e que muitas mulheres tiveram um papel ativo dentro dela.
Há cada vez mais evidências da existência de mulheres
importantes na vida religiosa, desde mestras que alcançaram o estado de
iluminação, no budismo e hinduísmo, até pregadoras no cristianismo. Além disso,
mesmo no islamismo as mulheres parecem ter tido participação ativa nos grupos
de Maomé. O evangelho segundo Maria Magdalena é o fato mais conhecido, o qual
trás fortes evidências de que as mulheres tiveram um papel não só ativo na
época de Jesus Cristo, como importante; quanto ao budismo, o livro “Women of
wisdom”, de Tsultrim Allione, é considerado como uma referência no tema, já que
a autora estudou e acumulou biografias de diversas mulheres que procuraram o
caminho da consciência e tornaram-se iluminadas.
No fim, todas estas tentativas são muito importantes, isso
porque uma das bases ideológicas do patriarcado é mantida em grande parte pela
religião. Muitas vezes, nem mesmo as leis ou promoções governamentais são
suficientes para driblar o fato de que os homens aprendem que possuem mais
direitos do que suas esposas em uma igreja qualquer e este ranço é também
justificativa para que todos os anos milhões de mulheres sejam assassinadas em
nome da lei divina.
Mesmo no islamismo as mulheres parecem ter tido participação ativa, como no caso da mulher de Maomé e de sua filha Fátima. Fonte: Scoreful |
Mas, eu posso dizer então que a religião é responsável por
isso? Muitas pessoas se afastam de qualquer tipo de espiritualidade justamente por
conta do sangue que estas instituições carregam nas mãos, mas a meu ver o
machismo e a violência não vem em si da religião, mas da sociedade que a
reitera. Assim, por mais que a religião seja uma repercussora destas ideologias,
o que a cria e a alimenta são as próprias pessoas e muitas vezes até aquelas
que não são religiosas, afinal, quem cala o crime consente de alguma forma.
Além disso, deve ficar claro que há cada vez mais evidências de que as
religiões em seus primórdios eram muito revolucionárias para o pensamento da
época. Há indícios, por exemplo, de que Jesus Cristo estimulava as mulheres a
pregar e que Maria Magdalena era uma das discípulas favoritas e a que possuía
uma das melhores compreensões das palavras do mestre. No caso do islamismo,
Maomé era casado com uma mulher muito mais velha do que ele e que cuidava de
suas finanças, além de trabalhar fora; no caso do budismo e hinduísmo, descobre-se,
mais e mais, a presença de mestras iluminadas e avatares mulheres que
reencarnaram na Terra para ajudar a humanidade, mas foram propositalmente
apagadas do conhecimento mais comum. No fim, o que vemos é que as mulheres
foram vítimas de muita violência desde que o patriarcado se instituiu e mesmo
que pessoas sábias viessem dizer o contrário, o ranço da sociedade contaminou
as palavras destas filosofias para dar vez a dogmas já instituídos de violência.
O que é o feminino? Esta é uma pergunta que teremos que responder nos próximos séculos, ajudando a guiar mais e mais mulheres na trilha do conhecimento, sem a influência do patriarcado. Fonte: JanelaDaAlam |
Assim, tendo em vista o fato de que a violência não é a
filosofia religiosa, mas apenas uma contaminação, está na hora de questionar e
deixar de lado o preconceito contra esta filosofia. Uma pessoa curiosa deveria
ter a possibilidade de conhecer um pouco de tudo e vejo que a religião foi
colocada como vilã da história, fazendo com que grandes filosofias fossem
levadas para o calabouço junto com a violência insana. Mas depois de algumas
décadas, acho que nós já podemos considerar que o que deve ser deixado para
trás é apenas a ignorância de políticos trambiqueiros, que usavam o nome da "Super Consciência" para roubar, dominar e matar. Nós temos o conhecimento dos
crimes que a igreja católica cometeu e comete e cada vez mais há indícios de
que Lamas com muito poder no budismo institucional usam desta posição para
cometer estupros e corrupção; no islamismo nem precisamos falar da extrema violência
que políticos justificam em seu nome. Apesar disso, está na hora de recuperarmos
a filosofia e a usarmos para ajudar a melhorar a nós mesmos e ao mundo.
Venerável Mestra Anandamayi Ma é uma das mais conhecidas Budas mulheres que recentemente incarnaram junto a humanidade. Fonte: Spirituality |
No fim, as mulheres estão tendo um dos papeis mais importantes
que poderiam ter neste meio, pois grupos de monjas no Tibet e Butão começam a
reivindicar seus direitos; no cristianismo, os evangelhos gnósticos começam a
aflorar e, é possível que talvez um dia as próprias mulheres comecem a
reformular o islamismo. Por hora, a boa notícia é que na Tailândia existe um
forte movimento para reavivar a prática do budismo junto às mulheres, as quais
foram banidas do direito de ser ordenadas em 1928. Liderado pela venerável
monja Dhammananda, outras mulheres tailandesas tentam reformular as
interpretações dos direitos das mulheres junto ao budismo incluindo a
possibilidade desta poder seguir o caminho espiritual ou não ser mais
considerada culpada em caso de agressão doméstica ou estupro, no budismo
Theravada.
Abaixo, eu deixo um vídeo legendado com a história de Sri Anandamayi
Ma, considerada como uma santa, Buda ou avatar do século passado.
Paz!
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