A Revolução dos Cocos – A Primeira Eco-revolução Já Aconteceu
Por: Camila Gomes Victorino
O que você faria se sua terra fosse morta, seu povo deslocado para uma favela e suas crianças morressem doentes pela água envenenada?
A Revolução dos Cocos from Daniel Barbosa on Vimeo.
O que você faria se sua terra fosse morta, seu povo deslocado para uma favela e suas crianças morressem doentes pela água envenenada?
A revolução dos cocos: a história do primeiro levante eco-ambiental. Fonte: HouseofSephora |
Nas Samoas, uma pequena ilha da
Indonésia venceu uma batalha de Davi contra Golias, porém, mais do que uma
guerra de poder, o povo da pequena ilha de Bouganville lutou pela manutenção de
suas florestas e de seus mananciais e enfrentou um embargo econômico,
financiado por grandes potências, com inventividade e cocos.
Até o início dos anos 80
Bouganville era uma ilha pertencente à Papua Nova Guiné e habitada por povos
nativos que viviam primordialmente de seu ecossistema. A mineradora “Rio
Tinto Zinc”, Anglo-Australiana, recebe, então, a concessão da exploração dos
solos da ilha e destrói boa parte do ecossistema local, poluindo as águas, tornando os solos inférteis e deslocando pessoas de suas aldeias para favelas. Depois de numerosas tentativas infrutíferas de
acordos com a companhia e grandes humilhações, o líder da comunidade decide
sabotar a mineradora, explodindo parte da infra-estrutura, o que ocasiona na
retaliação armada por parte do exército de Papua-Nova Guiné sobre o povo. A
morte de milhares de nativos desarmados, incluindo um número considerável de
crianças, leva todas as comunidades a se unirem e declararem a independência –
ainda irreconhecida - da ilha. Após infrutíferos ataques de Papua Nova Guiné, o exército australiano também decide invadir o local e após a
sua derrota, um embargo econômico de uma década é declarado contra o povoado, o que, apesar de parecer uma arma imbatível, torna-se uma faca de dois gumes, pois o embargo só aumenta a união da comunidade.
Armas artesanais de madeira contra metralhadoras automáticas, helicópteros, embargo econômico e exércitos bem treinados. Uma resposta desmesurada para manter o poder sobre a floresta. Fonte: Youtube |
A história deste
conflito - o qual foi o segundo maior conflito armado da Indonésia depois da
Segunda Guerra Mundial - praticamente passou em segredo pelas mídias mundiais, o
que só nos mostra como o colonialismo não acabou e como as grandes potências e
multinacionais apenas se interessam em lucrar a qualquer custo, mesmo que isso
leve à morte de pessoas e de um ecossistema inteiro. De fato, os povos nativos da ilha não só se uniram contra o desmatamento e tiveram a consciência da importância da floresta para sua sobrevivência, como venceram com arcos e flechas e inventividade as metralhadoras de ultra-potência, o que possivelmente só veio a aumentar ainda mais o silêncio sobre a questão.
Apesar disso, a história
deste povo e sua luta para manter sua dignidade e recursos naturais, foi
mostrada no documentário “A Revolução dos cocos”, o qual pode ser visto
gratuitamente na internet.
Até hoje as áreas exploradas pela mineradora estão estéreis e poluídas. Fonte: Wineandbowties |
No filme, não só descobrimos toda
a injustiça cometida contra este povoado, como também descobrimos a sua
inventividade, pois devido ao embargo econômico, o povoado é deixado sem acesso
a combustível, remédios e alimentos, o que os leva a inventar tecnologias totalmente
ecossustentáveis e inovadoras a partir do coco. Assim, o povoado remodela
motores para o uso de óleo de coco como combustível; eles também desenvolvem
uma medicina totalmente fitoterápica, que parece auxiliar mais eficientemente
do que a medicina convencional; eles também passam a plantar seu próprio
alimento orgânico e desenvolvem seus próprios produtos de limpeza, higiene e
métodos contraceptivos.
De fato, atualmente o embargo
econômico contra a ilha foi deixado de lado, mas esta sociedade tornou-se
totalmente auto-suficiente do sistema externo, o que infelizmente não conseguiu apagar as seqüelas que a
mineradora gerou, as quais ainda se mantêm após uma década, com solos estéreis e águas poluídas.
Isso é o temos, mas tudo pode desaparecer. Fonte: Dreamstime |
Atualmente, nós vemos nossos
ecossistemas serem degradados sem lógica nenhuma. O desmatamento da floresta
Amazônica está gerando seca no Sudeste e em regiões totalmente distantes do
Globo. O culto ao carro e transporte individualista faz com que as pessoas se
voltem contra ciclovias, mesmo quando mal podem respirar o ar poluído; a água está
começando a ser tornar um recurso escasso e até nossa alimentação está em risco
por contra dos agrotóxicos e transgênicos, que aumentam o risco de extinção de
polinizadores. Todos estes fatores são indícios de que mudanças devem ser
feitas, mas muitos temem que um mundo não seja possível fora do sistema
convencional. Todavia, em “A revolução dos cocos”, nós vemos o contrário e eles
provam que isolar-se do sistema e viver em comunhão com a natureza é tão mais
tranqüilo quanto mais eficiente para a qualidade de vida e economia de um
pequeno país, sem deixar de lembrar que é totalmente possível, mesmo que todas
as potências que destroem inconsequentemente o planeta estejam contra ele.
Veja o documentário completo legendado em português
Veja o documentário completo legendado em português
A Revolução dos Cocos from Daniel Barbosa on Vimeo.
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