Ciência: Adoçante Artificial Pode Gerar Obesidade e Diabetes
Por: Camila Gomes Victorino
Existem muitos relatos de internautas
sobre os perigos do aspartame, do acesulfame-k e da sucralose, mas eles acabam
sendo classificados como fruto de pseudo-cientistas, amantes da teoria da conspiração
ou apenas sem fundamento científico. Até agora! De fato, muitos estudos de
décadas atrás já demonstravam que os adoçantes artificiais poderiam levar a um
aumento da obesidade ou elevar a chance de se desenvolver diabetes, porém, os
resultados variavam dependendo da origem do financiamento do estudo. Assim, se
por um lado os resultados saiam negativos em estudos financiados por produtoras
de adoçantes artificiais, por outro, em estudos financiados por produtoras de
açúcar, os resultados eram positivos.
Segundo Bethany Brookshire,
colaboradora do site Science News, somente nos anos 90 estudos independentes
financiados pelo Estado puderam clarear os potenciais danos dos adoçantes
artificiais. Um estudo de 2008, por exemplo, publicado pela revista científica
Obesity, mostrou que um grupo de pessoas que trocou o açúcar pelo adoçante
ganhou mais peso em sete a oito anos do que o grupo que continuou a se
alimentar de açúcar. Outro estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition, de 2012, mostrou que em um período de 20 anos, pessoas que se
alimentavam de bebidas com adoçantes artificiais (diet) tinham mais risco de
desenvolver problemas metabólicos, como diabetes, do que o grupo que não fazia
uso destas bebidas. Além disso, o grupo do adoçante continuava a apresentar
risco aumentado de doenças metabólicas, mesmo se fizesse uso de mais alimentos
naturais e castanhas na dieta.
Pesquisas como esta são uma prova
bastante contundente de que os adoçantes artificiais não são inertes e podem
fazer mal para a saúde em longo prazo, principalmente se oferecidos a crianças.
O grande problema é que o jogo de interesses e o lobby político geraram e ainda
fazem com que hoje exista certo ceticismo sobre a inconveniência de usar estes
produtos. De fato, o problema está mais ligado à metodologia científica dos
estudos, pois apesar destas pesquisas encontrarem correlações entre uso de
adoçante, obesidade e diabetes, esta correlação não é prova de causa e,
portanto não se pode afirmar com certeza se é o adoçante e não outro fator não
estudado que estaria levando estas pessoas à obesidade.
Na realidade, mais uma vez, este
estudo só reitera a importância da manutenção equilibrada da microbiota
intestinal e reafirma a importância de uma alimentação balanceada, rica em
fibras e vegetais (GO vegan!). Além disso, depois deste e de todos os outros
estudos passados associando o uso de adoçantes ao aumento do risco de obesidade
e diabetes do tipo 2, não é possível que se continue a acreditar que se trata
de teoria da conspiração e não de um fato cientificamente constatado, de que
adoçantes artificiais realmente fazem mal à saúde.
Estudos científicos mostram que adoçantes não ajudam, mas pioram o quadro de obesidade. Fonte Webrun |
Na maioria dos casos é melhor optar pelo açúcar do que pelo adoçante. Fonte: Aprenda |
A confusão em torno do aspartame se deve em parte ao lobby e as pesquisas compradas no setor. Fonte: InfiniteUnkown |
Todavia, um estudo publicado este
ano na revista Nature parece colocar um ponto final nesta controvérsia,
contribuindo para demonstrar qual o possível mecanismo fisiológico que estaria
por trás da geração de doenças ligadas ao uso de adoçantes. Neste estudo,
pesquisadores do “Weismann Institute”, de Israel, mostraram que o uso
compulsório de adoçantes como sacarina, sucralose ou aspartame modifica a microbiota1
intestinal, aumentando a população de bactérias do gênero Bacteroides, as quais são associadas ao aumento do risco de
intolerância à glicose e conseqüente diabetes do tipo 2. O estudo também
demonstrou que o grupo de pessoas que fazia uso contínuo destes adoçantes
apresentou maior circunferência abdominal, maior índice de obesidade, taxas de
glicemia sob jejum acima do tolerado (pré-diabéticos) e taxa mais alta de
hemoglobina glicosilada2.
O adoçante está associado tanto a obesidade quanto ao aumento do risco de diabetes. Na foto: "Ah sim.. e um refrigerante diet também". Fonte: Workoutaustralia |
Evidentemente que a solução não
passa apenas pelo boicote dos adoçantes para bebidas, mas de todos os produtos
que os contêm, sejam refrigerantes, sucos, pudins, entre outros. Por fim, mesmo
alimentos indicados para diabéticos não parecem beneficiar estes indivíduos,
mas antes piorar a sua situação. No mais, é preciso estar atento a tudo que
tiver sabor doce, mas não contiver açúcar, como pastas de dentes e chicletes,
pois até eles contêm estes ingredientes.
Vamos lembrar que não vivemos em
um mundo de contos de fada e que existe sim uma guerra política por trás da aprovação
de certos alimentos, principalmente quando eles são produzidos por grandes
corporações. Sempre desconfie e não acredite que um alimento é seguro somente
porque foi liberado pela ANVISA. Muitos desses produtos nem sempre passam por
testes e nem são consenso dentro da comunidade científica e, portanto o
conselho é procurar se alimentar partir de
alimentos mais naturais, orgânicos e fazer pães, sucos, bolos e outros em casa,
afinal, nunca se sabe o tipo de produto que é adicionado no alimento sem seu
conhecimento.
Glossário
1 – Microbiota –
conjunto de espécies de microorganismos formando um ecossistema microscópico.
2 – Hemoglobina
glicosilada – é um teste realizado comumente em diabéticos e pré-diabéticos
para mensurar a quantidade de glicose disponível no sangue sob jejum.
Referências
Brookshire, B. The sour side of artificial sweeteners. Science News.
Clique aqui para ler a matéria completa.
Duffey,
K.; Steffen, L. M.; Van Horn, L.; Jacobs Jr, D. R.; Popkin, B. M. Dietarypatterns matter: diet beverages and cardiometabolic risks in the longitudinalcoronary artery risk development in young adults (CARDIA) study, The American Journal of Clinical Nutrition,
29, 2012
Fowler, S. P.; Williams, K.;
Resendez, R. G.; Hunt, K. J.; Hazuda, H. P.; Stern, M. P. Fueling the obesityepidemic? Artificially sweetened beverage use and long-term weight gain, Obesity, 16(8), 1894-1900, 2012.
Suez,
J.; Korem, T.; Zeevi, D.; Zilbermann-Shapira, G.; Thaiss, C. A.; Masa, O.;
Israeli, D.; Zmora, N.; Gilad, S.; Weinberger, A.; Kuperman, Y.; Harmelin, A.;
Kolodkin-Gal, I; Shapiro, H.; Halpern, Z.; Segal, E.; Elinav, E. Artificialsweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiota, Nature, September, 2014.
Labels
SAÚDE
Post A Comment
3 comentários :