Dica de filme | Samsara, estamos prontos para o caminho espiritual?
Por: Camila Arvoredo
Samsara representa o caminho espiritual e suas contradições de maneira sublime. Fonte: UmeternoBrainstorm |
Samsara, segundo o budismo é a roda das reencarnações,
composta pelas 108 vidas que o ente reencarna como ser humano para adquirir
conhecimento, decidir pela auto-realização e alcançar a comunhão com Deus pela
iluminação. Não poderia ser um nome mais perfeito para o filme a que vamos
falar hoje!
O filme Samsara é a história de um monge budista que se vê
dentro de um impasse em sua vida: ao mesmo tempo em que ele deseja a iluminação
e segue o caminho trilhado pela maioria dos monges em mosteiros do Tibet, ele
passa a abrigar dentro de si, uma série de desejos sexuais, realizados em seus
sonhos, o que o leva a abandonar sua vida monástica em busca de respostas.
Apesar do filme mostrar aspectos da vida dos monges e dos princípios
budistas, ele não é apenas a história de um deles, como a maioria dos filmes
sobre budismo apresenta. É aí, então que se encontra a riqueza do filme, pois
faz o espectador refletir sobre o papel do sexo e outros desejos carnais dentro
da religião e mesmo dentro do misticismo, que pode não estar vinculado diretamente
a uma doutrina religiosa. Embora a maioria das religiões e seitas pregue o sexo
como pecado e incentive o afastamento de seus discípulos da vida mundana, ela
não deixa claro o porquê da necessidade urgente deste afastamento, utilizando
apenas algumas frases clichês como a ligação do desejo a algo animalesco ou
mandamentos dogmáticos.
O confronto entre o monge e a vida mundana é um tema corrente do filme. Fonte: Nedworking |
Baseadas em princípios inquestionáveis, muitos de seus
discípulos se vêem confusos durante a vida, já que é normal o aparecimento de
desejos no decorrer da existência. A proibição, sem reflexão, só poderia levar
a absurdos tão inimagináveis, quanto a queima de mulheres durante o período da
Inquisição e seu rebaixamento como ser humano (até hoje), por ser considerada
como um sinônimo de pecado.
É dentro desta confusão do discípulo que Samsara tece a
história do filme. Sendo um enredo que trata de religião ou da busca pela
iluminação, ele apresenta sua riqueza, ao confrontar um monge extremamente
disciplinado, com questões sobre a proibição do desejo carnal, levando-o a uma
vila em que se casa e tem um filho.
É assim que o filme nos confronta com a nossa busca
espiritual ou metafísica, sempre em contradição com nossos desejos e sempre
marcada pelo preconceito que seguir preceitos místicos ou questões metafísicas
reitera em nossa sociedade materialista. Além disso, Samsara nos propõe pensar
sobre o papel da vida mundana no caminho espiritual, afinal, será mesmo
necessário ter que virar monge e se afastar de tudo para alcançar a iluminação?
O confronto entre o monge e sua esposa é uma das melhores partes do filme, questionando sobre a responsabilidade dos atos e o papel da mulher dentro da religião. Fonte: Cinemasemblablabla |
Para mim, o filme deixou claro que não, colocando a
segregação do mundo como um ponto negativo, que faz com que o ser humano não
consiga entender direito seus desejos, reprimindo-os em seu inconsciente, ao
invés de confrontá-los e entendê-los, quando eles aparecem em alguma situação
cotidiana.
É assim no começo do filme, em que o monge reprime seus
desejos, ao invés de entendê-los, por serem proibidos dentro do mosteiro.
Somente sua vivência mundana, as reações de ira, de luxúria e de usura que
apresenta no decorrer do filme, o fazem compreender claramente o que ele é e, a
partir disso, como ele pode se melhorar. Tristemente que, depois de muito
aprender, ele decide voltar ao mosteiro, abandonando sua mulher e filho sem
avisá-los, culminando no confronto com sua esposa, que o segue até o mosteiro.
Mulheres iluminadas quase não existem. Uma discussão sutil, mas pertinente do filme. Fonte: SemeandoluzCuritiba |
É nesta parte do filme que outra riqueza do enredo se
mostra, pois se toma um posicionamento pouco retratado nos filmes sobre
religião, a respeito do papel da mulher dentro das religiões monásticas e da
sua inexistência ou desaparecimento na história como Budas, deusas ou outros
seres iluminados.
É no momento que ela o encontra que se nota a dura realidade
da mulher responsável, que não abandona seus filhos, nem sua casa, por saber
que, sem ela, seu filho morrerá abandonado. Realidade diferente para o homem,
que sempre pode ir viver a vida, pois sabe que sempre haverá uma mulher para
limpar a sua bagunça. Reflexão interessante não só relacionada à busca da
iluminação, mas a qualquer contexto, em um mundo repleto de mães solteiras
abandonadas por seus maridos, namorados e afins.
Este filme realmente vale à pena. Acho que já era a hora de
algum filme sobre budismo retratar a condição da mulher enquanto ser místico. É
tudo muito sutil e somente no final do filme, a mulher do monge o questiona
sobre a sua falta de responsabilidade, culminando a um final bastante
misterioso que fica a cargo de você leitor nos dizer como o interpretou.
Assista Samsara e esteja pronto para questionar seus
próprios desejos, sua vida e como melhorar a si mesmo a partir desta reflexão.
Trailer do filme Samsara
Paz!
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