A Ingenuidade De Achar Que a Violência é Necessária
Por: Camila Arvoredo
E criar amor não é só com os outros, com aqueles que estão nas imediações, mas com os animais, o planeta, as plantas, fungos etc e mesmo as pessoas a que não se conhece, boicotando qualquer consumo danoso, que gere trabalho escravo, poluição e sofrimento para qualquer forma de vida. Deixar de lado o egoísmo, este sim, apegado ao sofá-televisão, abandonar seu consumismo, sua corrupção do sinal vermelho.
Finalmente estamos percebendo que é o amor a mais potente ferramenta para quebrar o sistema e não a violência. Fonte: Facebook |
Vi um vídeo na internet sobre as manifestações contra a
tarifa, alegando que nunca existiu exemplo de revolução sem violência na
história. Esta pessoa não poderia estar mais enganada! Eu acredito que a violência
faz parte de nossa história e é costume achar que sempre foi assim e sempre
será! É normal sermos violentos com os mais fracos e se os fracos se rebelam é
normal ser violento com os mais fortes. Apesar disso, muito singelamente aparece na
história alguns e algumas expoentes mestras e mestres nos falando que algo está
errado sobre a violência e que o mundo só realmente mudará quando a lógica “olho
por olho dente por dente”, finalmente se extinguir.
Quando não se age como eles esperam, uma espécie de bug acontece na mente do violentador Fonte: Globo |
O exemplo mais comum é a diferença de pontos de vista entre
Jesus e Barrabás, em que o primeiro alega o fim da violência e a pura
desobediência civil com amor, enquanto que o segundo clama pela revolução
armada contra o império romano. Outro exemplo é quando Gandhi é confrontado com
partidos políticos e organizações que preferem usar a violência, ao uso de métodos não violentos, o que culminou no seu assassinato por um dos
membros destas facções, a qual via a filosofia do amor, como um grande empecilho
à revolução armada.
Muitos acreditam que pacifistas são ativistas de sofá, mas esquecem-se que eles costumam dar a cara a tapa literalmente. Fonte: Youpix |
Até hoje existem pessoas que não entendem como é possível
mudar apenas jogando flores e esquecem-se, inclusive, destes dois exemplos
históricos que mostraram tentativas de mudança pacífica.
A verdade é que somos ensinados que pacifistas são ativistas
de sofá; pessoas que se sentam e dizem não à movimentação política, à resposta
contra a injustiça. Ademais, somos ensinados que amor é uma palavra piegas e
caída em desuso ou que é sinônimo de relacionamentos entre casais, não tendo
nenhuma relação com a mudança do mundo.
Mal sabem eles que, na realidade, o amor é a única
possibilidade para quebrar de vez a lógica de dominação, seja ela capitalista
ou comunista, e que a não-violência constitui-se assim como o melhor método
para acabar com toda forma de opressão.
Abraçar um policial: nem sempre fácil, mas muito eficiente! Fonte: |
Desta forma, quando não se responde a um ataque violento em
uma manifestação, quando os manifestantes se oferecem para ser presos em massa
- quando um companheiro passa por apuros -, quando jogam flores e geram
gentileza em resposta à truculência policial, quebra-se para sempre a regra “olho
por olho”, pois quem violenta está esperando uma resposta à altura ou o medo e não entende
quando percebe que sua tentativa de agressão não gera resposta alguma, mas
somente um abraço. É como um bug no sistema! A lógica é cortada e não há mais o
que fazer!
Apesar de seu grande efeito, é preciso treino para não responder com violência, perante a truculência dos poderosos. Fonte: jus |
É claro que fica difícil abraçar um policial depois que ele
explode uma bomba em você. Fica difícil ficar parado como pedra enquanto alguns
truculentos te prendem. Fica complicado juntar grupos grandes para oferecer
prisão ou continuar sentado e desobediente, frente a cassetetes que nos
molestam.
Sem treinamento isto é extremamente complicado, mas se as
pessoas percebessem que atuando sem violência quebrariam qualquer lógica para
gerar mais atrito, todos poderiam ir treinando suas mentes – com ou sem a ajuda
de grupos organizados – para agir com gentileza contra o próprio carrasco.
Não adianta sair da manifestação e voltar com os hábitos do jeitinho brasileiro. Fonte: Ositajai |
E isso durante as manifestações! Porque ser gentil com o
carrasco, não significa ser passivo, mas ensinar-lhe que a violência não cabe
mais neste mundo. Além disso, revolução da não-violência não se resume apenas
aos atos, mas é um processo muito mais radical, que abrange a mudança do
próprio ser!
Para gerarmos a resposta de amor, temos que mudar a nós
mesmos, pararmos de agir com raiva toda vez que nos cutucam; parar de gritar
ódio com qualquer ofensa e mais do que isso: o indivíduo tem que se desapegar
de qualquer ato violento que ele gere! Pois se continuar a agir com violência
no dia a dia, ele só pode estar gerando mais e mais ódio na sociedade. Ou você
acha que o problema da opressão é só culpa de meia dúzia de políticos e
empresas contra bilhões de amorosos oprimidos? Nós geramos a violência também,
mesmo que em pequenas doses!
A violência é algo tão próximo de você que você nem imagina! Fonte: imagesus |
E criar amor não é só com os outros, com aqueles que estão nas imediações, mas com os animais, o planeta, as plantas, fungos etc e mesmo as pessoas a que não se conhece, boicotando qualquer consumo danoso, que gere trabalho escravo, poluição e sofrimento para qualquer forma de vida. Deixar de lado o egoísmo, este sim, apegado ao sofá-televisão, abandonar seu consumismo, sua corrupção do sinal vermelho.
Esta é a verdadeira revolução! Porque depois de
manifestações imensas, não adianta voltar para casa feliz porque a tarifa
abaixou ou um corrupto foi cassado e continuar comendo no shopping como se nada estivesse acontecendo! A revolução
começa em nós! Somos nós que, com nosso ativismo da consciência, decidiremos
fazer política com nossas próprias mãos, sem ficar pedindo tudo para o governo!
Você sabia que se todos os 100.000 jovens, mais todos
aqueles que participaram das manifestações da tarifa em outros estados decidissem
boicotar o sistema, apenas mudando a si mesmos, o país passaria a mudar? E se
por exemplo, além das manifestações corriqueiras, toda esta galera se juntasse
para plantar nos canteiros abandonados ou dar aulas gratuitas em espaços
públicos? Desta vez não seria apenas uma passeata para barrar a opressão do
governo caduco, mas para chamar mais gente e mais povo para
mudar a si mesmo! Para fazer um auto-governo! Uma verdadeira auto-gestão!
Só cabe a nós escolhermos mudar esta lógica. Fonte: Página 22 |
Quando todos estiverem prontos para abandonar seus vícios,
deixar sua zona de conforto e mudar qualquer lugar, qualquer casa e a si mesmo,
não haverá governo, polícia, exército e nem a CIA ou área 51 capazes de lhes
dizer o que fazer!
Não vamos deixar o espírito da mudança acabar aqui! A
manifestação crescente que acontece hoje é só uma faísca! Cabe às pessoas
decidirem se querem continuar a mantê-la em si mesmos ou se contentar. Cabe às pessoas perceber que só existe governo porque
elas decidiram que precisavam de alguém para governar por elas!
No momento em que disserem “basta!” e não reagirem mais à
violência com violência - única arma daquele que quer dominar o outro - a ira
já não serve mais para nada! Afinal, o que fazer com a violência, se ela não
gera reação alguma no violentado?
O amor é a maior ferramenta contra a opressão que pode
existir e é por isso que fomos ensinados tão fortemente que esta é só uma
palavrinha importante para filmes de comédia romântica. Saiamos deste mito e
façamos a verdadeira revolução que desde Jesus Cristo está para acontecer!
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