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A história esquecida de Simone de Beauvoir contra A Circuncisão Feminina

Por: Camila Arvoredo

Simone foi um exemplo e incentivou muitas mulheres a
se rebelarem contra a opressão. Fonte: Listal
Simone de Beauvoir é possivelmente a filosofa mais conhecida e o exemplo mais comum, depois de Marie Curie, a ser dado no caso de mulheres celebres. Apesar disso, poucos sabem realmente sobre a importância de seu trabalho filosófico e identificam-na comumente como a esposa ou mais precisamente companheira de Sartre.
De fato, Simone teve um relacionamento conturbado com o filósofo existencialista Jean Paul Sartre, desde o período de faculdade e até a sua morte, mas isso é apenas um assunto que mais adiciona no conhecimento casual do que no conhecimento de seu trabalho. Simone não foi apenas companheira de Sartre, mas infelizmente e assim como a maioria das mulheres, seu trabalho tão importante acabou sendo ofuscado pelo seu relacionamento amoroso ou pelas regras da moda que costumava seguir. Ainda hoje, mulheres que se destacam são comentadas nos noticiários mais quando chamam a atenção pelo vestuário, etiqueta, filhos que gerou e relacionamentos amorosos, do que pela cura de alguma doença que acabaram por descobrir, pelo trabalho social que construíram ou pelas teorias que publicaram, mas não deixemos que Simone de Beauvoir seja conhecida apenas pela sua vida amorosa e vamos aos fatos desta vida brilhante.

Simone trabalhou e identificou a opressão sexual em todas as culturas,
mesmo que em algumas seja mascarada.
Fonte: Prezadocarapálida
Simone, como filósofa de esquerda e engajada no período pré e pós Segunda Guerra Mundial interessou-se por um tema pouco comum e estudado naquela época: a condição de vida e os direitos das mulheres. Ela, desde pequena – e isso conta em suas biografias – não conseguia conter o descontentamento ao perceber que era menos livre que os rapazes. Uma importante passagem de seu livro “A força da idade” conta uma das aventuras de Simone, que saiu sozinha para viajar de mochila pela França e pegou carona com dois homens estranhos. Ela narra seu pesadelo ao perceber que aqueles dois tinham mais a oferecer do que uma carona e como a tratavam mal pelo fato de estar viajando sozinha como mulher. Ela conseguiu escapar, mas estes importantes fatos que coleta durante sua vida a fizeram ir mais fundo e a pesquisar sobre a condição de vida de mulheres de todo o mundo. Foi nesta pesquisa que Simone traria para conhecimento do Ocidente uma das formas mais bárbaras de tratamento ao sexo feminino. Até a época de Simone, pouco se sabia a respeito da circuncisão feminina e imagino que até hoje muitas pessoas desconheçam do que se trata.

Ainda hoje a circuncisão feminina é comumente praticada. Simone foi
uma das primeiras a alertar sobre o fato. Fonte: Globo
Em alguns países do mundo, principalmente africanos, Simone descobriu que as mulheres, quando com apenas cinco anos, sofriam a retirada do clitóris e dos lábios vaginais. Todas as mulheres deveriam sofrer a operação e aquelas que não sofriam, poderiam ser consideradas como prostitutas ou fornicadoras e não arranjar um bom casamento no futuro. Assim, seus pais obrigavam muitas de suas filhas, considerando que aquilo seria mais um bem para elas do que um mal, o grau da mutilação podendo variar segundo o país ou cultura, sendo que em alguns extirpava-se o clitóris, em outros os lábios e nos casos mais brutos, toda a região era mutilada e uma costura realizada na abertura vaginal, a qual seria cortada com uma faca pelo futuro marido na noite de núpcias e recosturada quando o marido se ausentasse. Tão assustadora foi a revelação que Simone recebera ao saber sobre estes fatos que resolveu adentrar-se na luta pelos direitos da mulher. Simone hoje é conhecida como a autora da Bíblia do feminismo, obra que é chamada de “O segundo sexo”. Em seu livro, Simone vai além do relato da violência e demonstra pelos fatos e por bons argumentos, como a mulher não sofreu nada mais do que escravidão sexual por parte do sexo masculino e como a educação repressora fez com que os próprios escravos se considerassem livres e submissos ao seu amo. Todos estes argumentos fizeram com que pela primeira vez na história o tema dos direitos da mulher fosse amplamente divulgado com base em ótima argumentação sociológica. Mais tarde, somente na década de 90, a modelo Waris Dirie, vítima da circuncisão, tocaria novamente no tema e faria com que a ONU criasse um comitê para a tentativa de extinção desta prática.

Simone foi importante na dispersão da ideia de que a natureza feminina
não passa de construção artificial. Fonte: RenataAbala
Até hoje o livro de Simone de Beauvoir é considerado como contemporâneo, pois infelizmente ainda vivemos em uma sociedade cheia de repressão sexual, mesmo que em alguns países mais e em alguns menos. Aliás, seu livro teve importante papel de contribuição junto ao próprio existencialismo, já que ela afirma que não existe uma natureza humana, tanto para o homem quanto para a mulher. É comumente aceito, por exemplo, que o homem teria uma natureza transcendental (ativa) que o impulsionaria para atuar no mundo, enquanto que a mulher já teria uma natureza mais imanente (passiva), preocupando-se menos com as responsabilidades e com o agir. Simone questiona esta visão e afirma que os comportamentos dos dois sexos não passam de construtos sociais moldados e que é preciso resgatar a ação feminina, infelizmente apagada e massacrada pela opressão sexual de séculos.

Para saber mais sobre a circuncisão feminina, recomendo o post sobre a vida de Waris Dirie: “A Flor do deserto - filmes que ensinam a mudar o mundo


Projeto "HISTÓRIA AO CONTRÁRIO", clique aqui para saber mais!

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