Dica de livro | "As Boas Mulheres da China" - o que é ser mulher na China
Capa da tradução do livro em português "As boas mulheres da China" |
Um dia me deparei com um excerto de “As Boas mulheres da
China” na internet e fiquei chocada com o que havia acontecido com uma menina
chinesa. A menina, desde pequena, era estuprada pelo seu pai e sua mãe
acobertava a situação. Devido ao abuso, a menina adoeceu e, indo ao hospital,
descobriu que aquele era o lugar mais seguro onde jamais estivera. Daquele dia
em diante, a menina passou a se ferir e ficar longos períodos na neve, de modo
que pudesse adoecer e ser levada ao hospital para fugir de casa. De tanto adoecer, ela recebeu
internação e foi assim que conseguiu passar grande parte de sua existência, sem
sofrer a violência de sua família.
O mais intrigante nesta história é que a única amiga que ela
tivera fora uma mosca. A mosca havia lhe roçado a pele e a menina percebeu que
ela fora o único ser existente que lhe dera carinho em sua vida. A partir
daquele momento, a menina passou a cuidar da mosca. Bem, não vou contar toda a
história, mas digo que essa é apenas uma das ricas narrações sobre a vida de
algumas chinesas, indo da década de 70 até metade dos anos 90, que o livro faz. A autora Xinran, hoje erradicada na Inglaterra, conta
relatos espantosos sobre a situação da mulher chinesa. Aparentemente, pensei se
tratar de uma das milhares contra-propagandas ao governo chinês, financiadas
pelo Ocidente, mas o livro deixa claro que se trata de muito mais.
Autora Xinran |
Xinran aborda a questão de um ponto de vista humano,
deixando clara a contradição entre o discurso revolucionário e as ações
implementadas. Aliás, mais do que isso, fica clara a ineficiência, por parte
dos grupos de esquerda, de criticar as suas próprias ações opressoras para com seus
próximos, principalmente em relação à família, mulher, mãe ou irmã.
Depois de ler este livro, ficou mais do que entendida para
mim, a relação entre opressão na sociedade e sexismo. Se o sexismo foi sempre tratado como
algo relacionado apenas à interação entre homens e mulheres, aqui, fica evidente
que ele se trata de muito mais: um reflexo do desejo de opressão por parte de
alguns grupos sejam eles homens, mulheres, brancos ou a elite econômica, com
relação a outros.
Oprimir qualquer ser que seja já nos estimula a concordar com
o sistema opressor que oprime pessoas semelhantes ao nosso grupo ou a outro. Assim,
não basta acabar com a luta de classes se a opressão entre raças, sexos ou
entre pais e crianças continuar. A opressão continua introjetada em nosso
comportamento.
Xinran nos ensina em seu livro como temos muito o que fazer
para mudar a opressão. De fato, apesar do livro só tratar das mulheres, ele não
fala só sobre elas, mas sobre o desejo de poder que está dentro de cada um de nós
e que não pode deixar de existir se não o cortarmos, em nós mesmos, pela raíz.
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