Londres Ganha Supermercado Anti-Consumista
Impossível não ter curiosidade sobre o funcionamento do People's Supermarket, onde não há lucro, nem hierarquia. Fonte: EdinburghOldTownCryer |
É impossível deixar de associar as redes de supermercado ao
consumismo a a falta de ética. São milhares de produtos inúteis, enfileirados
de maneira proposital para chamar a nossa atenção e nos convencer de sua
utilidade; são centenas de alimentos anti-éticos que viajam quilômetros para
chegar ao galpão, pagando pouco ao verdadeiro produtor; e por fim, são
vários os cartéis, em que apenas algumas marcas são oferecidas, geralmente
pertencendo a grandes conglomerações multinacionais.
Antigamente, os alimentos eram estocados em mercearias, onde
encontrava-se feijão, arroz, farinhas e castanhas à granel, latas de molho,
ervilhas e outras conservas; nas quitandas encontravam-se as frutas, legumes e
verduras e apenas em algumas casas especiais era possível encontrar bens
duráveis, que eram realmente duráveis. Hoje, as mercearias, as quitandas e as
lojas de ferragens e outras foram substituídas por grandes galpões onde tudo se
vende. Tudo é coberto por excesso de embalagem e quase tudo que é oferecido
contém quilos de conservantes e químicos, sendo raro encontrar produtos
saudáveis.
Em um supermercado comum há uma forte tendência a explorar o consumismo passivo e a impedir a reflexão sobre o sistema de exploração de sua mão de obra. Fonte: PanelaTerapia |
Além dos problemas de viés, a que as grandes redes se metem, como o
fato de se encontrar mais alimentos contaminados e de grandes conglomerados,
ainda há o lucro abusivo a que estas redes se aproveitam. Antes de mais nada,
não é o só lucro para cada produto, mas o lucro do trabalho quase escravo a que
são submetidos os caixas de supermercado e todos os funcionários de logística e
também o que tiram do pequeno produtor. Por fim, a poluição ambiental do
transporte de alimentos por longas distâncias e o excesso de desperdício daqueles que passam do prazo de validade nos incitam a pensar sobre formas mais justas de se
consumir e mais benignas para nós e nosso meio-ambiente.
Iniciativas como o "Supermercado do povo" incentivam o consumo consciente, a agricultura familiar e o fim da exploração de mão de obra. Fonte: ecografismo |
Antes de mais nada, consumir não é necessariamente um ato
capitalista que visa uma troca por dinheiro ou outro meio e em que está
implícito o lucro. Atualmente, o consumo se faz desta maneira, mas é possível
produzir bens e trocá-los na comunidade de maneira mais justa para o
meio-ambiente, para nossa saúde e para a comunidade.
Foi pensando nisso que um grupo de Londres criou o “People’s
Supermarket”, o qual foi inaugurado em 2009 por Arthur Potts-Dawson, Kate Bull e
David Barrie. No caso do “Supermercado do Povo” cada cliente pode se tornar um
membro e, assim, uma espécie de sócio do local. Ao tornar-se sócia, a pessoa
deve se voluntariar e trabalhar 4 horas a cada 4 semanas no estabelecimento.
Todos os funcionários do local são sócios e não há maior lucro para os
criadores ou membros mais antigos, todos ganhando igual. Mais interessante é que
não há lucro propriamente dito. Mas, como assim? Bem, no caso de um
supermercado comum, além das horas trabalhadas, o proprietário ganha um
excedente, o qual é retirado das horas trabalhadas dos funcionários. No caso do
“Supermercado do Povo”, cada colaborador ganha apenas suas horas trabalhadas,
tornando o trabalho mais justo para todos.
Na inciativa do "Supermercado do povo" não há hierarquia e todos os membros ganham igual, sem haver lucros para uns ou outros. Fonte: The Guardian |
Outro ponto interessante é que os membros ganham descontos e
qualquer pessoa pode se tornar um sócio. Os membros têm direitos, mas também têm
deveres, auxiliando no funcionamento do estabelecimento e pagando uma taxa de 25 libras por ano.
Até aí, este modelo de supermercado já é anos luz mais justo
do que um convencional, em que caixas e outros funcionários mal
pagos coexistem. Mas, além disso, há mais: o “Supermercado do povo” possui um
restaurante em que todos os alimentos que estão próximos do vencimento vão para
a cozinha, evitando o desperdício; ademais, os restos orgânicos são alocados em
composteiras, gerando adubo, e todos os produtos são fornecidos por produtores e parceiros locais, incentivando a agricultura familiar e diminuindo a poluição
ambiental com transportes. Por fim, os membros preocupam-se com o que vendem e
proibiram a venda de cigarros no local.
O consumidor passivo costuma ignorar os problemas que os produtos que consome causam ao meio-ambiente e à sociedade. Fonte: ClarissaBoico |
A ideia aqui é tornar o consumidor ativo e sair do modelo de
consumo passivo, em que o consumidor não sabe de onde vem e como é feito o
alimento. Atualmente, as pessoas não sabem como os produtos que consomem são
produzidos e qual o prejuízo social e ambiental que eles causam.
Vemos hoje um absurdo de tortura em criações de animais para
produção de leite, ovos, laticínios em geral e carnes; vemos hoje o trabalho
escravo e infantil na produção de açúcar, farinhas e café, sem falar no que é
importado da China. Além disso, não se sabe o que contém cada produto, os
mesmos levando substâncias cancerígenas e danosas ao meio-ambiente. O consumidor
passivo é aquele que não se importa e que enche o carrinho sem refletir sobre o
que está incentivando ao comprar um produto. Ele não relaciona seus resfriados
consecutivos a sua má alimentação e a violência da cidade a seus hábitos que
agridem também aos produtores de alimentos, aos funcionários semi-escravos dos
supermercados e ao meio-ambiente com o simples hábito de comprar.
Outras iniciativas similares estão ganhando força pelo mundo e auxiliando no aumento da reflexão sobre os hábitos de consumo da população. Fonte: 30WalksInBrooklyn |
Acredito que o “Supermercado do povo”seja uma boa forma de
reflexão a partir do ato! É através de nossos atos do dia-a-dia que construímos
um mundo melhor! Às vezes, claro, é impossível achar algo perfeito e ético, mas
nossa iniciativa pode criar um local assim, ou nosso boicote pode prejudicar as
vendas de quem não se importa com as conseqüências de seus atos.
Uma iniciativa similar ao “People’s Supermarket” existe em
Nova Iorque, chamada “Park Slope Food Co-operative”.
Para saber mais sobre o “People’s Supermarket”: visite o
site: http://www.thepeoplessupermarket.org/
Outras iniciativas:
- Nova Iorque: Park Slope Food Cooperative: http://www.foodcoop.com/
Autora: Camila Arvoredo
Gostou? Compartilhe e faça a mudança acontecer!
Ajude o blog a crescer e seja um seguidor!
Projeto "HISTÓRIA AO CONTRÁRIO", clique aqui para saber mais!
Labels
PERMACULTURA
Post A Comment
3 comentários :