A Volta da Mulher das Cavernas
Por: Camila Arvoredo
Casamento e dona do lar. Para muitas mulheres, a melhor solução. Fonte: IssoAquiloAlguns |
Ainda vivemos em um romance de Jane Austen? Neles, podendo
citar tanto “Orgulho e preconceito” como “Razão e sensibilidade” existe sempre um
círculo de vaidades, o qual deve ser englobado (e não superado) para a
sobrevivência na sociedade. No caso das mulheres, elas devem se enquadrar
sempre nos padrões estabelecidos que este círculo lhes impõe, seja casar-se com
um bom partido e ter filhos, de preferência meninos.
Atualmente, depois de quase um século em que a mulher
finalmente pode ir além do velho casamento, ainda existe na nossa sociedade a
idéia de que uma mulher, somente é bem sucedida, se casou. E claro, quanto
melhor o partido, mais bem sucedida ela é!
A sociedade ainda pressiona e educa a mulher para sonhar em ser uma boa esposa e arranjar um príncipe provedor. Fonte: Smart Girls |
Ela pode ter uma carreira consolidada e ela pode ser
talentosa em vários quesitos, mas sempre é bom saber se ela é de fato uma
mulher de talento: como conquistadora de corações e boa parideira, como
reprodutora fiel de novos talentos para a sociedade.
Um exemplo interessante e bastante comum é a famosa piada da
má-comilança, em que qualquer mudança de humor da mulher, ou o fato dela ser
muito séria e austera quando está em uma situação de poder é sinônimo de que
algo está errado com a sua vida sexual, afinal mulheres mal-humoradas nada mais
são do que “mal-comidas”.
Evidentemente que esta ditadura não se compara àquela outra,
muito pior, em que a mulher deve mostrar, após ser casada, a grande quantidade
de filhos que conseguiu ter, afinal, mulher que não é mãe não é mulher! Para um
homem, não há problemas em não ter filhos e muito menos se não casou, o que
fica evidente quando analisamos nossa língua portuguesa e outras línguas, como o
inglês e o francês, em que uma mulher tem o status modificado quando casa, passando
de senhorita para senhora; enquanto que um homem é sempre senhor desde que sua
aparência condiza com a idade adulta.
As próprias mulheres ensinam e pressionam as outras para que sigam com as regras estabelecidas. Fonte: Capinaremos |
O pior é que a pressão provém das próprias mulheres contra
as outras, de modo que todas elas devam seguir as normas estabelecidas.
É claro que atualmente a mulher pode ser mais do que uma
mulher casada e mãe, porém a maioria delas ainda sonha com o príncipe
encantado. De fato, nenhum problema existe em sonhar em encontrar alguém para
compartilhar os sonhos, mas existe ainda um grande problema no fato da maioria
das mulheres sonharem apenas com príncipes provedores do lar e imaginarem que
parte da solução de seus problemas seria resolvido com um casamento, e
preferência com alguém de classe social mais garantida.
Mas afinal, como pode isto acontecer ainda em pleno século
XXI? Li e continuo a ler centenas de depoimentos de mulheres que dariam tudo
para voltar aos anos 50, onde gastariam seu tempo preparando bolos e tortas,
cuidando da aparência para agradar o provedor e cuidar dos inúmeros filhos por
horas a fio! Sim, esta é a liberdade prometida para muitas mulheres! Ter
responsabilidades mata e o ideal e mais fácil é ter alguém mais forte e viril
para te dizer o que fazer; é não sair de casa e não se cansar, como o macho
faz; é poder compactuar com as amigas, de mesma situação, sobre a condição dos
bolinhos recheados de baunilha.
Muitas mulheres querem voltar ao passado em busca de uma solução para os problemas do excesso de trabalho atual. Fonte: MJ with love |
Em algumas revistas femininas li que as mulheres estão
cansadas de ter tanta liberdade (imagine então se realmente tivéssemos acabado
com todo o machismo!). Elas imaginam que a função da fêmea é o lar e os filhos
e culpam suas mães e vós de terem queimado seus sutiãs, procurando pelo mercado
de trabalho. Elas não querem trabalhar fora; elas não querem tomar decisões que
possam ser erradas; elas não querem ter que lutar contra a ainda existente
opressão (que, muitas vezes, elas mesmas produzem), em que elas devem cuidar do
lar, mas também ser tão eficientes quanto um homem no trabalho, ganhando menos!
Sim, eu sei que é difícil! Não vivemos em um mundo
igualitário. Vivemos em uma sociedade em que a mulher pode trabalhar e pode
estudar o quanto quiser. Uma sociedade que prestigia a boa estudante, mas que a
pressiona a se casar e a ter filhos, paga menos por uma eficiência que às vezes
ultrapassa a do homem e obriga a mulher a parecer com uma deusa do photoshop.
Antigamente a mulher sabia o que fazer: lavar louça, cozinhar, reproduzir,
cuidar do lar e agradar o homem. Hoje, a mulher deve saber as mesmas coisas,
mas também deve saber todas as outras que os homens sabem e isso, para algumas,
é cansativo, senão para todas, entretanto não é voltando à idade da pedra que
resolveremos este tipo de problema, mas sim, admitindo que o machismo ainda
existe e que é propagado pelas próprias ladies.
Hoje, além de termos que ser esposas e mães, ainda temos que ser bem arrumadas e boas profissionais. Fonte: Identidades de gênero |
São as mulheres que devem dizer não à pressão da sociedade
para que sigam com o estabelecido. Como já acentuei em posts anteriores () é a
mulher que deve dar um basta para preconceitos arraigados que ela mesma carrega
dentro de si, como o nojo de sua própria menstruação e a mutilação dos pêlos.
Há mais: existem os regimes insuportáveis para manter a beleza
das bonecas; existe a pressão, que as mulheres que não podem ter filhos, fazem
a si mesmas; existe a dor de não ter arranjado um bom partido depois que
passamos dos trinta e existem todos os desafios modernos, que a sociedade
machista nos impõe para sermos muito mais eficientes do que um homem, aceitando
ganhar menos para isso.
Como dizia Sartre, a liberdade é poder pesar as escolhas com
base em suas conseqüências e com isso, responsabilizar-se por elas. É fácil ter
alguém para dizer o que devemos fazer! É fácil apostar no que a sociedade,
nossa família e amigos nos dizem para fazer. É muito mais fácil, mas com isso tornamo-nos
prisioneiras!
Muitos e muitas se perguntam se valeu à pena ter deixado o
conforto do lar pela liberdade com responsabilidade. Eu digo que valeu! É
doloroso tomar uma decisão que muitas vezes não dará certo no futuro; é
doloroso seguir seus próprios sonhos, quando todos te dizem que se deve apostar
no estabelecido, mas não há casamento, filhos e cosméticos que paguem o
aprendizado e o gosto pela vida. Não há babadinhos e bolinhos com geléia que
paguem a possibilidade de ir até o infinito.
Eles tiveram séculos para querer trocar de lugar conosco, mas nunca quiseram, entretanto a mulher quer voltar ao passado. Fonte: Cuia Brasa |
Pergunto aos homens se eles trocariam poder fazer tudo que
fazem pelo conforto do ninho eterno; se deixariam de lado a possibilidade de ir
e vir e de pensar como quiser, pelas manhãs infinitas de louça, fraldas e
cabeleireiros e acima de tudo se trocariam a possibilidade de decidir pelas
suas próprias vidas, por um destino traçado pelo seu sexo.
Sinceramente, eu acho que eles não trocariam, mesmo que eu
trocasse a louça pelos reparos na casa e as fraldas e cabelos por alguma
atividade eterna que lhes interessasse.
Agora, se eles não trocariam, aproveitando há séculos da
famosa liberdade Sartriana, por que, meus amigas, eles dizem a você para trocar
esta pouca liberdade que ainda conquistou, pelo conforto do lar? E mais, por
que vocês mesmas dizem estar arrependidas de terem trocado o berço pela idade
adulta?
Eles não querem, mas a sociedade quer que queiramos. Para quem? Fonte: Desperate Winehouse |
O homem, com toda a liberdade que teve, nunca quis trocar,
em séculos de soberania, sua liberdade pela “liberdade” da mulher. Pergunto-me
então, se o que a sociedade te fala para ser, é realmente tão bom, a ponto de
nenhum dos homens querer. Talvez você queira voltar à idade das pedras, mas
cuidado! Alguém está gostando muito mais disso do que você e este é aquele que
propaga esta ideologia e a quer prisioneira.
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Em breve sessão "História ao contrário".
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