Depoimento - Acordei um porco e dormi vegano
O que mais
me marcou ao ler “A metamorfose” de Franz Kafka foi, sem dúvida, algo que fugia
do óbvio da interpretação comum do livro. Quando eu terminei o livro, eu senti
um mal-estar sobre como o ser humano maltrata e desdenha o que é diferente
dele, ou seja: o animal não-humano.
Eu também
era assim! Não me lembro exatamente se eu era assim quando criança, mas,
conforme eu fui crescendo, eu fui aprendendo que animais não eram nossos
iguais. Nós os comemos, nós nos aproveitamos deles e nós nos justificamos na
nossa superioridade intelectual, claro!
O problema
é que os fatos contradizem esta doença que assombra a humanidade há séculos. Os
animais, na realidade, são muito sensíveis e, mesmo que a ciência diga que nada
sabe sobre uma determinada espécie, a gente sabe, na experiência do dia a dia,
que, mesmo uma barata, treme por sua vida, se esconde, corre, se assusta, foge
e luta com todas as suas forças para não ser esmagada ou envenenada pela gente.
Mas, não
adianta ter só a experiência! O sentimento de orgulho e vaidade de nossa
superioridade como espécie é tão forte e tão intrincado que não adianta ver um
cachorro gemer de dor, ver um, documentário cheio de sangue de animais ou,
mesmo presenciar uma ação cruel contra um animal. Há pessoas que simplesmente
não conseguem, porque, no fundo, a gente se sente muito bem sendo o topo da
cadeia alimentar, mesmo que no dia a dia a gente seja um brutamontes com o
planeta e com o próximo.
Foi assim
comigo durante muito tempo! Eu justificava minha picanha nas proteínas, eu
dizia que as plantas também sentiam dor e que, portanto, eu deveria comer os
animais também! Eu dizia que não conseguiria ser vegano, pois bacon era muito
gostoso ou que eu iria ficar doente. Enfim, eu usava desculpas bastante
caricatas, comumente presentes nas redes sociais do status quo , para
justificar minha falta de coragem, até que...
Ao fechar
os olhos, eu estava em um lugar extremamente apertado. Tudo doía. Minhas
pernas, minha cabeça e eu sentia tanto incômodo, querendo me mover, mas não
tinha como, pois o lugar era exatamente do meu tamanho. Moscas vagavam pelo meu
corpo, sinalizando que eu estava mais morto do que vivo naquela condição. Eu
ouvia gritos desesperados de outros como eu, em baias como eu, apertados e
lacrados, como um pernil em objeto. Tentei mover minha cabeça e senti minhas
fezes espalhadas por todos os cantos do pequeno local onde habitava. Não me
parecia estranho e eu sentia que vivia ali, desde muitos anos, crescendo sem
luz e sem razão. Estava escuro, o cheiro era assustador, beirando o nauseabundo.
Olhei para cima e vi um vulto alto, que me xingou e me fez caminhar para outro
local. Mal conseguia. Minhas pernas pareciam não ser usadas há décadas. Fui,
alimentado pelo ódio do vulto grande e vestido de branco. Senti muito medo.
Muitos, como eu, gritavam e se debatiam. Vi de relance o brilho da faca e
sangue escorria pelo piso. Começaram a me bater e gritei feito louco. Ajuda!
Ajuda! Mas, ela não vinha, ninguém ouvia ou se faziam de surdos. Enfim, o
pesadelo acabou e vi uma lâmina, cortando meu pescoço. Eu era um porco e
acordei em lágrimas.
Não sei
porque sonhei com isso, mas tem sonhos que ficam para sempre guardados na nossa
memória. Sim, um sonho não tão comum mudou para sempre minha vida e eu acho que
depois dele, eu comecei a entender o porquê de tantas pessoas serem assim como
eu era, cheios de desculpas.
Eu sonhei
que eu era um porco e eu acordei, pensando ser um porco. Nossa, este sonho foi
tão realista! O fato do sonho me colocar no lugar de uma criatura que eu comia,
que eu desdenhava me fez me colocar no lugar do outro!
Um sonho
tão simples, mas tão poderoso!
A verdade é
que as pessoas, no geral, não conseguem se colocar no lugar do outro. Elas não
conseguem se colocar nem mesmo no lugar das pessoas que elas mais amam, imagine
se colocar no lugar de um ser que é de outra espécie, que se comunica de outra
maneira e que a gente tem que fazer um esforço para entender o que ele quer
dizer?
Eu precisei
ter um sonho realista, desses que acontece mais junto de pessoas místicas ou
até parecem viagens alucinógenas de filmes. O problema, na realidade, é que não
dá para todo mundo sair sonhando por aí que é um porco, uma vaca, um boi, uma
galinha em apuros!
Ao invés
disso, as pessoas precisam começar a fazer o exercício de tentar se colocar no
lugar do próximo, de tentar se visualizar naquele grito, naquele choro, naquele
cubículo apertado, naquela sensação de roubo. Eu peço a todos e todas que leem
este texto para que, ao menos tentem fazer este exercício de paz. Afinal, a paz
só vai começar quando nós pararmos de nos entupir de egocentrismo e começarmos
a nos sentir no outro, seja ele humano ou não!
Eu tive que
acordar um porco para dormir vegano! Eu acredito que uma pessoa comum não
precise esperar por este sonho para começar a mudar o mundo de bilhões de
animais no mundo todo. Basta ela fechar os olhos e se imaginar no lugar destes
animais. Tenho certeza que, ao abrir os olhos, esta pessoa, no mínimo terá dado
o primeiro passo rumo ao veganismo, que nada mais é do que um movimento pela
paz mundial, mas que vai muito além das barreiras que separam o ser humano dos
outros seres deste planeta.
Eu quero
paz para todos e todas. Eu quero paz com o planeta Terra e suas milhões de
espécies. É por isso que hoje eu durmo vegano todas as noites. É por isso, que
depois de acordar um porco, eu acordo vegano todos os dias a partir de hoje!
Feliz dia
mundial do veganismo!
Escrito por: Compaixão
Paz!
Se você se sentou tocada/tocado e quer se tornar vegano, aproveite para ler mais textos do site na sessão "Veganismo", os quais são várias dicas que podem te ajudar no começo do caminho. Se ainda tiver dúvidas, mande um e-mail para pensandoaocontrario@gmail.com
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