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Anna Kingsford, Vegetariana Antes de Todos

Por: Camila Arvoredo

Anna Kingsford: muita coragem para enfrentar
a opressão contra a mulher e contra os
animais em sua época. Fonte: Anna Kingsford
No século XIX, quando ainda muitas pessoas eram favoráveis à escravidão de outros seres humanos, algumas poucas vozes já começavam a se levantar pelos direitos dos animais não-humanos, aqueles sem voz e ainda, segundo muitos, servindo apenas ao financiamento de algum capricho humano.
Anna Kingsford foi uma dessas primeiras vozes, que não foi somente uma das primeiras a escrever sobre a possibilidade de uma alimentação totalmente vegetariana para o ser humano, como uma das fundadoras dos movimentos anti-vivissecação que viriam posteriormente.
Anna foi a segunda mulher inglesa a obter o diploma em Medicina, obtendo-o junto da Universidade de Paris. Através do conhecimento que obteve, durante os anos de curso, pôde questionar a idéia materialista corrente de Claude Bernard, que considerava o corpo humano e animal como uma máquina. Até hoje, o estudo fisiológico baseia-se nesta visão, mas não foram poucos aqueles a questioná-la.

Kingsford conta, em muitos de seus livros, sobre o inferno que vivenciava na faculdade, ao ouvir gritos de dor, por toda a parte, sem entender o porquê de ninguém se sensibilizar ou considerar aqueles apelos, apenas como respostas automáticas de uma máquina em processo de destruição pelas mãos humanas. Por fim, além de sua luta pelo pré-movimento vegetariano, Anna também foi uma grande ativista dos direitos da mulher e uma mística, tendo filiado-se à Sociedade Teosófica, a qual foi fundada por outra grande mulher, Helena Blavatsky, a qual citaremos em post posterior.

Foi preciso muita coragem para questionar algo que ainda
hoje não é bem aceito se questionar.
Fonte: Estadão Blogs
Atualmente sempre ouvimos falar de grandes homens pacifistas e que lutaram pelos direitos dos oprimidos. Na escola ouvimos falar dos heróis e vilões da história, mas pouco se aborda sobre as grandes pensadoras e questionadoras da sociedade. Anna Kingsford foi uma dessas mulheres, que não só trouxe um questionamento sobre o materialismo da fisiologia da época, como gerou a reflexão sobre os direitos dos animais e a possibilidade de não serem máquinas, como muitos acreditavam. Por fim, seu sofrimento, ante a discriminação sexista que sofria na faculdade, nos faz concluir, mais uma vez, sobre seu brilhantismo, pois mesmo não sendo bem-vinda na Universidade, por ser mulher, ela ainda assim, muito adicionou à sociedade da época.

Em uma carta escrita a seu marido, ela diz:

“As coisas não estão indo bem para mim. Meu chefe, no hospital Charité, desaprova totalmente a entrada de mulheres estudantes e demonstra isso a todo momento. Ao redor de 100 homens (e eu, como única mulher) andavam pela ala médica hoje, e quando todos estavam reunidos ante ele, para ter os seus nomes inscritos, ele os chamou um a um, exceto eu, e então, fechou o livro. Eu dei um passo adiante e disse calmamente: Eu também, senhor. Ele virou rudemente e gritou: Você? Você não é nem homem nem mulher. Eu não quero inscrever seu nome. Eu permaneci silenciosa, no meio do silêncio mortal”*

A medicina afastou as mulheres porque era forte símbolo de poder,
ao contrário da enfermagem, caracterizada como subserviente
na época.
É impressionante como atualmente são tantas as mulheres médicas, mas ainda assim, na história, as antepassadas que tiveram a coragem de questionar a ideologia patriarcal da época, tanto relacionada a dominação de outros seres vivos e seres humanos, como do próprio funcionamento da ciência, foram esquecidas. Não vamos esquecer que muita coragem foi necessária para possibilitar algo tão simples, como se matricular em cursos universitários. Você se imaginaria sendo Anna Kingsford, enfrentando o professor e todos os cem homens e seus olhares reprobatórios? Você se imaginaria, sendo vítima do sexismo de sua época, abordando uma questão tão tabu como vegetarianismo e anti-vivissecação?


Fonte: Better World books
É por isso que temos que lembrá-las, pois são os exemplos de coragem que farão com que mais meninas, e também meninos, tornem-se corajosos, no futuro, para também questionar este mundo virado pelo avesso.


* Esta citação pode ser encontrada em versão original na língua inglesa no livro da escritora científica e jornalista Deborah Rudacille: The Scalpel and the Butterfly. University of California Press, 2000, pp. 31, 46.

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