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Comunismo barato Versus Comunismo de fato: a Nova Revolução

Por: Camila Arvoredo
Manifestante durante protesto contra o G8. Fonte: JumentoBlog
Uma vez quando criança, no supermercado, um parente meu fez o seguinte comentário: o Fernando Henrique está acabando com o Brasil, tinha que ser comunista. Daquele momento em diante eu me dei conta de que, para a maioria das pessoas, comunismo era sinônimo de coisa ruim, daquilo que não dá certo, e não, na verdade, de um conjunto de idéias que envolvem justiça social. Desde meus treze anos, o comunismo invadia minha vida. Eu queria mudar o mundo e fazer a revolução armada, mas me dei conta, mais tarde, que apoiava ideias violentas e totalitárias.
Fazer a revolução armada, apoiar a revolução russa de 1917 e ler livros sobre a vida de Fidel Castro eram atividades comuns, mas o que dizer quando descobri que Trotsky, já no poder, mandou metralhar proletários em greve? E como fazer para criar a revolução armada se a grande maioria dos proletários e outros membros das classes subordinadas apoiava a tirania e a corrupção - ou dos próprios tiranos no poder, ou dentro de casa, contra suas esposas, crianças e vizinhos?

A poesia de Jorge de Lima salienta bem esta contradição:

Mulher Proletária

O ciclo vicioso da violência. 
Muher proletária – única fábrica
que o operário tem (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
fornece anjos para o Senhor Jesus,
fornece braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.

A poesia mostra que a mulher era a propriedade do proletário e, assim, o oprimido também era opressor em menor escala. Questões começaram a passar pela minha cabeça, afinal, destruir os tiranos seria destruir quase toda a humanidade e mais: não seria eu tirana ao matar os tiranos? Seria correto matar as crianças dos tiranos? Seria correto atuar violentamente, ensinando as próximas gerações que não há métodos de luta não-violentos ou mesmo evidenciar que a violência é, por fim, a única solução?
O Stalisnismo assassino, o Trotskismo hipócrita, o Leninismo das vanguardas, mais instruídas, então morreu e morreu com ele todos os outros “NomesPrópriosIsmos”,  de minha vida.
A partir da constatação desses dilemas e das ações totalitárias que esses chamados comunismos fizeram, muitas pessoas associam o comunismo a essas doutrinas. 
O comunismo vem sendo associado a processos de
massificação, ocorridos em regimes totalitários e
em curso atualmente. Fonte: Gabriel Nardelli
Muitos, então, passam a apoiar o capitalismo, pois deduzem que não há saída para a violência. Outros usam esses regimes totalitários para negar formas mais justas de sociedade e armam uma guerra contra qualquer pessoa que se diga comunista, afinal comunismo é morte e falta de liberdade. Não poderia deixar de citar aqueles que argumentam que o comunismo é senão uma forma de uniformização do pensamento onde todos se vestem e se parecem iguais (interessantemente, uma sociedade muito parecida com a nossa atual) e por fim, aqueles que fazem estudos sociobiológicos provando que a competição e as hierarquias estão arraigadas em nossos genes.
Mas afinal, é isso o comunismo? Bem, comunismo é dividir. No comunismo não existe a minha propriedade, o que não quer dizer que eu tenha que dividir minha escova de dentes com toda a população do Brasil. No comunismo trabalhamos para criar e não para destruir. A horta é de todos. Todos trabalham e todos comem. O artesanato pode ser dividido igualmente e ninguém vê com maus olhos a limpeza do banheiro, do esgoto ou o cuidado parental como serviços menores, afinal, são trabalhos que geram vida! Imagino que, por outro lado, serviços especulatórios, não existam, pois estes mais geram morte do que vida.
Mulheres segurando bandeira do
movimeno Zapatista. Fonte: Rogélio Casado
Placa em TodMorten, na Inglaterra: "Cultive seus próprios vegetais ou
compartilhe isso. Por favor, pegue apenas o que precisa.
Fonte: Grow the Planet
Utopia? Sim, talvez seja, mas existiram exemplos na história que mostraram que isso pode existir. Durante a Revolução Espanhola, o anarquismo da resistência contra Franco foi um dos exemplos de igualdade de gênero, de poder e de produção. Outro exemplo é o movimento Zapatista mexicano e atualmente, poderia citar o projeto “Incredible Edible”, da cidade inglesa de TodMorden.

No último caso é fato que eles vivem no meio do capital e sim, nem todos os sistemas são igualitários, mas o plantio de alimentos pelos canteiros e espaços públicos da cidade; a divisão igualitária dos vegetais e do trabalho; a elaboração de 
metas comunitárias e a criação de um ciclo de cooperação de trabalho entre todos os habitantes negam aquilo que muitos especialistas teimam a clamar como biológico: a competição humana como sendo única saída natural, já que arraigada em nosso genes.
O dito comunismo violento, o comunismo totalitário, aquele que tira a liberdade e tortura o corpo e a alma está contra o comunismo da não-violência, da ação ativa da população - que não espera a aprovação dos órgãos burocráticos do governo - que simplesmente faz e cria, apesar das pressões dos poderosos (veja artigo do blog “A Repressão contra o Anticonsumismo – Homem é Multado por FazerHorta em seu Jardim”), que organiza-se nos boicotes anticonsumistas e nas manifestações não-violentas que fazem a população perceber, no riso, os absurdos da sociedade.
Agir conscientemente e não-violentamente não só é efetivo
como ensina os passantes de que a não-violência é
possível. Fonte: Let There be laugh
 Ele está na negação do consumo de venenos, e de produtos anti-éticos. Está na negação de comportamentos uniformizantes e que tanto existem na nossa sociedade. Está na criação de um sistema paralelo, que não pede autorização e está na revolução da consciência de nós mesmos.
Está na hora das pessoas perceberem que a história que nos ensinam nem sempre é a história verdadeira. Será mesmo que aquilo que você critica como comunismo, não é exatamente aquilo que você está vivendo agora em sua sociedade?
Sem mais “ismos”, mesmo no que diz respeito ao comunismo, a revolução da não-violência ou qualquer nome que se dê a ela começa pela mudança de nossos hábitos, costumes e ideologias mais arraigadas.
Movimento de Contracultura.
A mudança começa em nós e palavras desgastadas como paz
e amor, são as maiores estratégias contra a violência.
Fonte: Náufrago da Utopia
 Quando começamos a nos questionar sobre o porquê de ter um carro, de ter que comer comida congelada e não fresca, de ter que usar saia, ao invés de calça, de ter que bater, ao invés de conversar, de ter que surrupiar, ao invés de dividir, e de ter que assistir televisão, ao invés de ir a uma manifestação, aí sim estamos começando a fazer a verdadeira revolução. 

Você é só um, mas um mais um são muitos!

Para saber mais sobre a revolução que não quer tomar o poder, sugiro a leitura de:

- HOLLOWAY, J. Mudar o mundo sem tomar o poder – o significado da revolução hoje. Editora Boitempo, 2003;
- KHASNABICH, A. Zapatism beyond borders  new imaginations of political possibility. University of Toronto Press, 2008; 

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